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Igreja de São Sebastião do Pouso Alegre

(por: José Rodolpho Assenço)

                        A Igreja de São Sebastião do Pouso Alegre talvez seja a mais bela entre as que estão situadas em área rural. Mas pede socorro, e corre sério risco de ruir a qualquer momento.

escoramento_da_igreja

escoramento_da_igreja

 

                        Conta a história que, por volta de 1880, o fazendeiro Imeliano Silva Neiva era o homem mais rico de toda região, com terras que seguiam da divisa com a cidade de Paracatu, Minas Gerais, até as margens do Rio São Marcos. Devoto de São Sebastião, teria mandado erguer a Igreja de São Sebastião e construir um cemitério. Fez uma doação significativa de terras, ao Santo, de aproximadamente 400ha. Ali se formou um vilarejo, hoje extinto.

igreja_de_sao_sebastião_do_pouso_alegre

igreja_de_sao_sebastião_do_pouso_alegre

 

                        Os relatos de fazendeiros mais antigos da região indicam que, quando a Igreja funcionava, havia sempre a festa de São Sebastião com muitos cavaleiros, procissão, novenas, muita música e diversas comidas. Essa festa recebia bastante gente que vinha de diversas regiões do município e até de cidades vizinhas a Paracatu.

                        Por situar-se em área rural, nos dias de hoje, teria sido saqueada e suas imagens — incluindo uma do Mestre Athaíde — roubadas.  

                        Existe um orçamento de restauração da referida Igreja que monta um milhão de reais, feito há alguns anos, e há esforços da comunidade de Paracatu para que isso aconteça.

                        Saímos para visitar a Igreja, partindo de Paracatu, eu, o fotógrafo Cleber Medeiros e meu amigo da cidade Humberto Neiva. Seguimos no rumo da divisa com Goiás, a uns 26 quilômetros; entramos em uma estrada de terra que parte do posto Ranchão e seguimos por aproximadamente uns oito quilômetros nesse trajeto. Levando em consideração que a “estrada real” seguia trajeto semelhante até o Registro do Arrependido, fiquei imaginando se não seria parte do caminho dessa antiga trilha das tropas de moares.

                        Logo chegamos à Igreja, próxima a essa estrada. Humberto estacionou a camionete e iniciamos imediatamente alguns conjuntos de fotos da parte externa da Igreja. Na frente desta, existe um único túmulo que imagino seja de alguma autoridade eclesiástica; logo mais à frente, uma grande cruz que, a exemplo do túmulo, também já estava deteriorada.

cruz_de_sao_sebastião_do_pouso_alegre

cruz_de_sao_sebastião_do_pouso_alegre

 

                        De fachada belíssima, com uma varanda ao seu lado esquerdo, a bela Igreja em ruínas tem um ar especial.

detalhe da varanda

detalhe da varanda

 

                        Seguimos o conjunto de fotos e fomos avisados por Humberto para termos cuidado e não entrarmos na Igreja, tendo em vista o risco de acidente. Alerta logicamente não atendido, pois preferíamos correr o risco e poder registrar tudo da bela Igreja, até mesmo  a triste condição em que ela se encontra.

                        Em sua nave principal, registramos fotos do escoramento, colocado em 2008, para que ela não viesse a ruir em definitivo. Mas o estado dela está crítico: a situação do telhado, que parece mais uma peneira; o taboado do mezanino terrivelmente deteriorado.

mezanino

mezanino

 

Mesmo assim, há muitas partes bonitas: a belezas do altar,

altar

altar

 

 

dos diversos túmulos emparedados em sua nave, do balaustre que normalmente era  utilizado para que um músico tocasse um violino ou uma flauta quando das solenidades. 

balaustre

balaustre

 

                        Feito isso, entramos na pequena casa paroquial, anexa à nave principal e que se encontrava em iguais condições, porém, nela, o piso era em pedras cortadas de cor escura, com janelas grandes e, ao final, uma escada levando a um andar superior ao fundo, por de trás do altar principal.

casa_paroquial

casa_paroquial

 

Finalmente, nesse local, devido às condições, não tivemos coragem de subir; andávamos com muito cuidado e medo de que acontecesse alguma queda de parede ou de tábuas de escoramento e, para tanto, seguíamos pé ante pé, e nem conversávamos para não fazer barulho. Humberto nos aguardava no lado de fora próximo a cerca.

                        Havia nas paredes da nave e do cômodo anexo diversos túmulos de emparedados e pudemos observar que todos compunham a família de Humberto, ou seja, Silva Neiva.

tumulo

tumulo na parede

 

Na saída, evitei naquele momento de comentar este fato, porem, era conhecedor de que a família de meu amigo tinha sido proprietária de todas aquelas terras.

                        Fotografamos o grande crucifixo e, em seguida, eu e Cleber fomos por uma trilha de quinhentos metros, até atingir o cemitério do antigo arraial. 

estrada do cemitério

estrada do cemitério

 

                        O cemitério de Pouso Alegre está tão deteriorado quanto a Igreja. As laterais, em adobe, muitas já ruíram e alguns túmulos também estão destruídos, por vândalos ou pela própria ação do tempo. Enfim, Fizemos alguns registros fotográficos desse cemitério, especialmente, dos muros em adobe, nas partes em que eles ainda resistem.

cemitério_de_pouso_alegre

cemitério_de_pouso_alegre

 

                        Assim como aconteceu na Igreja, novamente observamos no cemitério imensa quantidade de placas com os nomes da família Silva Neiva.

cemitério

cemitério

 

                        Retornando ao carro onde amigo Humberto me aguardava, não resisti e gritei ainda de longe,- “ô Humberto acho melhor você não ir nesse cemitério não”, rapidamente ele já deu um sorriso e me respondeu “ Uai, Rodolpho, já sei, meus parentes tão tudo ai né, vai me dá depressão”. Finalizei gritando ainda: “é alem de que, quem não é visto também não é lembrado”.

                        Humberto ria bastante ao mesmo tempo em que aproveitava para concertar o cercado de arame farpado que estava caído para com isso evitar que algum cavalo ou boi viesse a esbarrar na Igreja, ou acabar de destruí-la.

As Cachoeiras do Prata e do Ascânio

(por: José Rodolpho Assenço)

                        O Complexo das Cachoeiras do Prata e do Ascânio representam um importante destino de ecoturismo e de turismo de aventura do Noroeste de Minas e localiza-se quase na divisa desse estado com o de Goiás. O acesso para esse local é feito, partindo de Paracatu, por uma estrada que se encontra com a rodovia BR 60 a meio caminho para Catalão.

ascânio

                        Partimos eu, meus filhos e o caro amigo Humberto Neiva com sua família de Paracatu para essa empreitada, passando antes em uma casa de carnes para providenciar a matula (conjunto de alimentos para o dia), pois não tínhamos notícias de infraestrutura no local. Compramos então carnes, farofa, arroz. E levamos ainda talheres e copos.

                        O conjunto de cachoeiras encontra-se a aproximadamente quarenta quilômetros do centro de Paracatu, sendo uns trinta quilômetros em estrada de terra — com grande trânsito — muito mal conservada: costeletas, buracos foram uma constante em nossa viagem. Decidimos seguir numa camionete, a fim de evitar a quebra de algum veículo de passeio.

                        Chegando ao local, decidimos descer inicialmente para a cachoeira do Ascânio. Além de ser a mais famosa, aproveitamos para ali descansar um pouco objetivando fazer o trajeto principal. A descida nesse local é íngreme e perigosa. Segui na frente com a máquina fotográfica e ainda apoiando meus filhos, mas sempre tentando, de alguma forma, dar a maior condição de segurança a todos.

o rio

                        Assim que saímos de uma mata mais densa, descortinou-se a nossa frente a bela cachoeira do Ascânio com seu lago — ou poço — logo abaixo, coisa extremamente convidativa para um mergulho. E assim aconteceu, todos desfrutamos desse inesquecível momento.

cachoeira_do_ascânio topo_da_cachoeira

                        A subida de volta foi bem desgastante também; acompanhei meus filhos novamente em todo trajeto perigoso e, após matar a sede, devido o adiantado da hora, acampamos para almoçar da matula que levamos.

                        À tarde, prosseguimos em novas caminhadas. Chegamos à parte de cima da cachoeira do Ascânio, com sua queda de aproximadamente cinquenta metros. Local perigoso, de onde a altura e as pedras causam uma sensação de medo a todos que andam por aquele beiral. Com rochas de cor avermelhada, há uma composição única com o denso verde da mata.

cachoeira_do_ascânio_vista_de_cima

                        Caminhamos, em seguida, para a Barra do Prata, local onde há muito tempo foi construída uma represa no intuito de produzir uma grande queda de água, a primeira hidroelétrica do Norte de Minas. Saindo da mata, consegue-se ver ainda alguns grandes tubos metálicos por onde a água descia com pressão até a usina.

corredeira_da_barra_do_prata barra_do_prata

                        Todo o local é composto de rochas avermelhadas que em algum momento sugere ser uma escadaria gigante.

rochas_da_região_do_prata

                        Mas abaixo, outra cachoeira do complexo e seus belos remansos. Nessa ocasião, empolgado com a beleza exuberante do local, fiz inúmeras fotografias.

corredeira remanso

                        Com tudo isso registrado, e feliz com o passeio na ótima companhia de Humberto, e de meus filhos, seguimos o caminho de volta pela cansativa estrada de terra rumo a Civilização.