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LARGO DA ORDEM, Conjunto Histórico do Século XVIII

(por: José Rodolpho Assenço)

                        O Largo da Ordem é o conjunto histórico mais famoso de Curitiba, provavelmente o local do início de sua ocupação na entrada do século XVIII, onde os tropeiros e fazendeiros traziam suas mercadorias para vender ou para escambo. Representa um conjunto arquitetônico de grande importância.

bebedouro_no_largo_da_ordem

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                        Constitui um largo com um bebedouro de pequeno porte ao centro, intacto até os dias de hoje. Era o local onde os viajantes e comerciantes davam de beber a seus animais enquanto promoviam o comércio e as trocas.  Constitui também um conjunto de edificações e igrejas que remetem a Curitiba antiga, abrigando, hoje, inúmeros museus.

casa_antigas_do_largo_da_ordem

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                        Atualmente, é um ponto de encontro dos curitibanos. Conta com uma feira variada no domingo, com diversos artigos e gêneros, muitos bares e restaurantes – todo o conjunto está fechado ao tráfego de veículos há alguns anos e recebe grande cuidado do governo municipal e estadual em sua conservação.

                        Grande destaque nesse conjunto é, sem dúvida, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas, de 1737, a mais antiga de Curitiba.

igreja_da_ordem_terceira_de_são_fancisco_das_chagas

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          Chegando ao local, iniciei minha visita pela referida Igreja, fotografando todo o largo e o pequeno bebedouro, em pedra. Logo à frente, visitei a Casa Romário Martins, umas das mais antigas, que teve diversas funções ao longo desses séculos, tais como: residência e açougue.

casa_romário_martins

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                        Logo abaixo, a Casa Vermelha, que, naquele momento, não pude adentrar. Sabe-se, no entanto, que foi construída em 1891 por Wilhelm Peters e teria abrigado diversas lojas até se tornar um espaço cultural da cidade.

casa_vermelha

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                        Seguindo pelo largo, prossegui minha visita observando também diversas outras casas antigas, onde hoje estão instalados bares e restaurante.

bar_no_largo_da_ordem

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Segui em direção à Igreja do Rosário, a qual se encontrava aberta com alguns fieis que já aguardavam a primeira missa, às dezoito horas. Aproveitei o ensejo, para fotografar, além da fachada, suas laterais. Nessa, tive acesso a sua nave.

igreja_do_rosário_em_curitiba

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                        A fotografia é uma arte instigante. Quando, por exemplo, não se tem muito tempo e nem as condições meteorológicas e tecnológicas favoráveis a uma bela foto, o simples registro fotográfico daquilo que é parte da história de nosso Brasil — de um momento ou ainda de um acontecimento —, se faz necessário e pode nos empolgar.   Agrada-me, sobremaneira, poder registrar e guardar todas as imagens, mesmo aquelas que não estejam com a qualidade que gostaria de produzir.

igreja_batista_no_centro_historico_de_curitiba

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                        Houve momentos em que perdi diversas oportunidades de registrar momentos e locais interessantes, sem ter conseguido outra oportunidade de visita. Diante disso, acompanha-me sempre uma máquina fotográfica compacta, para que tal lamento não venha mais a acorrer.

                        Na sequência da visita, sentei por alguns momentos a uma mesa de um bar, sem nada pedir, apenas para observar o largo e tentar imaginar o referido lugar nos séculos XVIII e XIX.

                        Estava deveras feliz de ter tido essa oportunidade de conhecer um pouco da história de Curitiba.

rua_do_memorial_da_cidade

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                        Por fim, dirigi-me rua abaixo e cheguei bem próximo ao largo onde se encontra o Memorial da Cidade de Curitiba, uma construção moderna, composta de diversos vidros e que abriga acervos históricos da cidade e do estado.

memorial_da_cidade

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                        Concluída minha visita, iniciei uma caminhada, de média distância, do centro histórico, conhecendo as ruas e avenidas da cidade até o hotel, onde me encontrava hospedado.

Padre Santiago e as Igrejas de Paracatu

(por: José Rodolpho Assenço)

                        A História da “Villa de Paracatu do Príncipe” nos revela algumas etapas fantásticas e intrigantes. A do Padre Antônio Mendes Santiago, por exemplo, é uma delas.

                        Conhecedor de sua história, busquei fotografar as Igrejas de Paracatu, em especial aquelas que teriam sido por ele construídas.

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                        Padre Mendes Santiago participou e comandou tropas no levante denominado “Sedição”, acontecido no noroeste mineiro, notadamente no Vale do São Francisco, onde ele era vigário geral no ano de 1736. Padre Santiago, à frente de duzentos homens da tropa da latifundiária Dona Maria da Cruz, tomou a vila de São Romão.

                        Esse levante foi a luta entre os potentados do sertão. De um lado, os grandes proprietários de terra apoiados pelo Padre; e, de outro, aqueles que defendiam as ordens da capital da província. Essa luta foi considerada como marco final do domínio do sertão pelos proprietários, o que mudou o foco econômico, valorizando as regiões mineradoras.

                        Padre Santiago e os proprietários perderam a batalha. Tiveram suas terras e fortunas confiscadas. O religioso, porém, fugiu, tempos depois, e buscou refúgio na casa do bispo de Olinda.

                        Com a descoberta do ouro no Arraial de Paracatu, volta a cena a figura temida do Padre Mendes Santiago, tendo ele construído, em 1744, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e um belo largo de mesmo nome; já em 1746, edificou a Igreja de Santo Antonio de Manga (hoje Matriz de Santo Antonio), cujo nome veio da ordem do bispado em se construir uma Igreja em Manga para Santo Antonio.

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                        O Padre teria mudado deliberadamente a intenção de se construir essa Igreja em Manga, e a trouxe para o Arraial. Logo em 1755, Santiago foi nomeado oficialmente vigário geral de Paracatu.

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                        Esse padre era considerado terrível e temido por todos. Dizia-se, à época, que era chefe do tribunal da Inquisição. Tornou-se também o chefe absoluto de todo o sertão. Cobrava taxas sobre o ouro auferido pelos garimpeiros; julgava os infiéis — ou quem não lhe pagasse os tributos — de forma severa com tortura e morte, além de confiscar-lhes os bens. 

                        Criou uma Irmandade que controlava as pessoas mais abastadas e que impunha as penas àqueles que cometessem crimes de não pagar os impostos por ele estipulados.

                     “A Irmandade das Almas, controlada pelo padre Santiago, vigiava as pessoas ricas e ajudavam o pobre a morrer. Os Carrascos dessa Irmandade eram o Dionísio e a sinhá Andreza.  A sinhá Andreza “tinha uma cara de corujão”, usava óculos quadrados, era obesa. Ela ajoelhava sobre o estomago de suas vitimas e apertava com força a garganta dos pobres enfermos, bradando: “Diga, Jesus, Irmão! Diga, Jesus, Irmão! Se não pode dizer de boca, diga de coração!.”” (SOUZA, Marcos Spagnuolo. Paracatu: sua história. Paracatu: [s.n], 1999. p.121.)  

                        Após muitos anos de horror, em 1761, a população de Paracatu representou ao bispo contra o Padre que, em 1767, por fim, vendeu e pegou toda a fortuna que conseguiu acumular em Paracatu, e sumiu.

                        Voltando às Igrejas que visitei, especialmente a de Santo Antonio, fui recebido por uma funcionária do turismo da cidade, que me apresentou o interior da Igreja e toda a nave: com piso de madeira e diversos túmulos abaixo;  altar principal, com muitos  santos; altares secundários e laterais.   

nave_da_igreja_de_santo_antoniodetalhes_das_portas

 

 

altar_secundario altar_lateral 3 altar_lateral 2 

                        Pude observar que havia, nas duas laterais da Igreja, balaustres em formato de sacada que, segundo me relatou a jovem, o padre usava para falar ou gritar mais perto de seus fiéis. Nesse momento, questionei se ela tinha conhecimento da história do Padre Mendes Santiago, e ela me confirmou que sim. Sabia que ele tinha sido o construtor da referida Matriz e que também havia cometido algumas atrocidades na região.

balaustre altar_lateral 1

                        Feliz com o conjunto de fotos realizadas e de ter materializado toda a história que pesquisei, dei-me por satisfeito.