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SERRA DAS ARARAS E A HISTÓRIA DE ANTONIO DÓ

(por: José Rodolpho Assenço)

                   Serra das Araras é uma comunidade centenária situada no sertão norte de Minas Gerais e possui diversas histórias interessantes, destacando a que deu origem a livros e filme, que foi a saga de Antonio Dó, o bandoleiro do sertão.

                   Em visita ao parque Grande Sertão Veredas neste ano, acompanhado de Nayara e do fotógrafo Cleber Medeiros — e, ainda, de nosso guia Anderson Santana —, tivemos a oportunidade de conhecer essa pequena e agradável vila, encravada no meio do grande sertão.    

serra das araras

serra das araras

             A História de Serra das Araras passa por sua ocupação a partir do aparecimento da imagem de Santo Antonio no alto da serra, imagem essa que foi trazida às margens do rio Catarina e erigida uma capela em sua homenagem. Conta a lenda que a imagem teria sumido e reaparecido na serra. Essa notícia se espalhou entre os povos do grande sertão e inúmeros fieis começaram a visitar a citada imagem, que diziam andar sozinha.   Após incontáveis peregrinações, a vila veio a se desenvolver.

atual igreja de santo antonio

atual igreja de santo antonio

                   Até hoje, na primeira quinzena de junho, acontece uma grande festa em devoção a Santo Antonio no local onde diversos peregrinos de numerosos lugares se instalam.

pousada e restaurante em serra das araras

pousada e restaurante em serra das araras

                   A região encontra-se encravada em local marcado pelo poder dos grandes latifundiários há séculos, e sempre diante de diversos conflitos de terras.

                   Nesse contexto, surge, no final do século XIX, a figura de Antonio Dó, de justiceiro a bandido, de foragido a matador de polícia.

                   A História de Dó na região começa quando, em 1878, da vinda de sua família de Pilão Arcado na Bahia, para São Francisco, antiga Pedras de Cima, local onde sua família se instalou, trabalhou e conquistou grandes fazendas. Nessas condições de fazendeiro de sucesso na região, a tranquilidade de Dó veio a acabar quando um vizinho seu que dominava a política da região decide apropriar-se de uma parte da fazenda do Dó.

                   A região era dominada também pelo Coronel Nunes Brasileiro com interferência direta na polícia e nas decisões judiciais.

                   Diante da situação, Antonio Dó buscou, por meio das autoridades, reaver seus direitos e foi, por conseguinte, humilhado pelo Capitão Américo, que favorece interesses de Chico Peba. Depois de incontáveis discussões e ofensas, Dó foi agredido e preso em São Francisco.

                   Seguida a sua prisão, Chico Peba junta-se ao cunhado de Antonio Dó e se apropria do gado dele e de sua irmã.  Essa trama é descoberta pelo irmão de Dó, que é, em seguida, assassinado.

                   Com uma revolta sem precedentes devido às humilhações pela morte do irmão, pela impunidade total quando o assunto se tratava desses fazendeiros poderosos, já com sessenta anos de idade, Dó foge para Serra das Araras, onde, em pouco tempo, monta um bando de jagunços para reaver o que era seu de direito e invadir São Francisco, punindo, assim, todos os que o humilharam.

                   Não consegue reaver e, de certa forma, Dó decidiu prosseguir com seus jagunços impondo justiça e travando uma batalha com os poderosos e com a polícia mineira.  Dó resolveu inúmeras disputas de terras sempre matando os invasores, um verdadeiro cangaço no norte do sertão mineiro.

                   Em alguns momentos, Dó era a solução para caso em que a justiça nada fazia contra os interesses dos coronéis.  Em outro, caso do fazendeiro que se apaixonou pela mulher de seu funcionário vindo a matá-lo, Dó e seu bando entraram na fazenda, mataram o fazendeiro criminoso e entregaram a fazenda à viúva, expulsando a amante.  Em outras ocasiões, Dó era solicitado para atuar como juiz de paz e ou juiz popular.

                   Conta as histórias de Dó que ele e seus jagunços não eram mortos pelas inúmeras entradas de polícia a sua busca porque eram protegidos por um tipo de mandinga que os imunizavam de tudo; dizia que nada de metal, particularmente no caso de Dó, o atingiria, pois uma espécie de patuá o mantinha de corpo fechado; outros diziam que ele tinha um pacto com o demônio.               

                   Por dezenove anos, Dó foi o rei do sertão e, certa feita, se juntou com um outro bando no intuito de invadir São Francisco, matar as tropas e os policiais, o que realmente veio a acontecer, porém levando a baixas de ambos os lados.

largo na serra das araras

largo na serra das araras

                   Sempre voltava à Serra das Araras de onde ele podia fugir e se esconder em um sertão devoluto e não conhecido, logo acima da serra.

                   Por fim, em uma traição no ano de 1929, Antonio Dó foi emboscado e morto com participação de sua companheira.

comercio em serra das araras

comercio em serra das araras

                    Retornando a nossa visita à pequena Serra das Araras, iniciamos pela Igreja de Santo Antonio, onde havia a pequena capela, e as ruas ao seu redor.

igreja de santo antonio

igreja de santo antonio

Caminhamos pela rua comercial onde pudemos também perceber a existência de umas duas pousadas na vila.

casa da cultura

casa da cultura

                      Após essa visita, seguimos para um restaurante na cidade, pois já aproximava das 14 horas, e fomos recebidos por uma senhora simpática.

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Terminado o almoço, partimos então para uma visita à casa da cultura, onde Nayara ficou maravilhada com os artefatos produzidos pelo povo do sertão,

artesanato na serra das araras

artesanato na serra das araras

especialmente pelos mobiliários produzidos com madeira de buriti.

jogo de sala em buriti

jogo de sala em buriti

Finalizada nossa visita, retornamos os quarenta quilômetros de terra, ou melhor, de areia, que separam Araras da cidade de Chapada Gaúcha.

DO LISO DO SUSSUARÃO à Chapada Gaúcha

 

   (por: José Rodolpho Assenço)             

                    O Município mineiro de Chapada Gaúcha tem sua sede assentada sobre o Liso do Sussuarão, um grande platô sobre a Serra das Araras, em Minas, e sua pré-história está envolta a personagens de Guimarães Rosa: a história das jagunçadas e dos bandoleiros que ali se escondiam no início do século passado e, por fim, o relato da vinda de migrantes do Rio Grande do Sul em um projeto de assentamento rural.

                   Tivemos a oportunidade de conhecer a região, fomos eu e o fotógrafo Cleber. Visitamos esse rincão norte de minas, do qual já tínhamos conhecimento sobre diversos rios, grotões e, em especial, sobre o maior parque de cerrado, o Grande Sertão Veredas.

                   Partimos ainda pela manhã, seguindo ao norte de minas, passando pelo município de Arinos até atingir, a cem quilômetros desse a cidade, a Chapada Gaúcha.

liso do sussuarão

liso do sussuarão

                   Percebemos que havíamos chegado local ao nos depararmos com um gigantesco platô, região completamente plana de cerrado ralo.

                   Historicamente, o Liso era conhecido como um lugar sem nada, onde nenhum ser humano ali sobreviveria; sem água por léguas e léguas de distância, onde poucos conheciam sua passagem até atingir do outro lado o vale do Carinhanha. 

                   Nesse cenário, o Liso tornou-se região de refúgio para os bandos de jagunços que assolaram o sertão, entre eles, Antonio Dó e Andalécio, descritos como os bandoleiros das barrancas do São Francisco.

liso do sussuarão ao anoitecer

liso do sussuarão ao anoitecer

                   Esse deserto permaneceu praticamente inexplorado por muitos anos, composto por uma região praticamente sem água, de terra arenosa e de vegetação rasteira.

                   Em 1976, o governo militar buscava a ocupação de regiões de terras devolutas e, para tanto criou o Projeto de Assentamento Dirigido à Serra das Araras (PADSA), que assentou inúmeras famílias gaúchas sobre o Liso e localidades circunvizinhas. Logo, a região prosperou o solo arenoso com as devidas e modernas correções do solo se tornaram produtivos, e uma vila de gaúchos se formou sobre o Sussuarão.

casa do parque

casa do parque

                   A Vila dos Gaúchos em 1994, tornou-se distrito de Chapada Gaúcha, pertencente ao município de São Francisco e, no ano seguinte, foi elevada a Município, tendo o Distrito de Serra das Araras, distrito histórico em suas terras.

chapada gaúcha

chapada gaúcha

                   Com aproximadamente onze mil habitantes, o município teve, e tem, um crescimento acelerado, oriundo da produção agrícola em especial da soja, milho e em sementes de capim. Por sorte, a região produz uma das melhores sementes de capim e é procurada por inúmeros pecuaristas para formação de pastagens.

chapada gaúcha

chapada gaúcha

 

                   Retornando a nossa visita, estava no final da tarde acompanhado de Nayara, do fotógrafo Cleber e de nosso guia, o Senhor Anderson Lopes Santana, conhecedor dos meandros do sertão da história de Guimarães Rosa e das veredas, que nos acompanharia a visita também, a outros passeios e partimos para o por do sol na beira desse tabuleiro no imenso Vão dos Buracos, local de onde tiramos inúmeras fotos.

vão dos buracos

vão dos buracos

                   Em Chapada Gaúcha, nos hospedamos em um bom e pequeno hotel na cidade e aproveitamos também para visitar a sua Igreja Matriz, logo próximo à entrada da cidade e próximo ao hotel.

igreja de chapada gaúcha

igreja de chapada gaúcha

                   Esse local está de frente de uma grande praça, a qual tem alguns bares, restaurante e a prefeitura ao fundo e onde acontece diversas atividades e eventos na pequena cidade, em especial no mês de julho, o Encontro dos Povos do Sertão.

praça e prefeitura ao fundo, chapada gaúcha

praça e prefeitura ao fundo, chapada gaúcha

                  Visitamos a sede do Parque Nacional do Grande Sertão Veredas, uma simpática casa, e onde fomos imensamente bem recebidos.  

sede do parque grande sertão veredas

sede do parque grande sertão veredas

         Tenho que registrar também que, em nossa estada na cidade, visitamos a casa de nosso guia Anderson, onde sua esposa e sogra nos atenderam com um excelente jantar.

centro de chapada gaúcha

centro de chapada gaúcha

                   Ao Final, fiz questão de visitar algumas das poucas ruas da cidade, registrando essa que tem um crescimento acelerado e onde consta ter uma das Cooperativas de Crédito mais eficientes do estado.