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ALAGOINHAS – Ruínas e Igreja de Santo Antonio

(por: José Rodolpho Assenço)

                   Tive a grata oportunidade de conhecer Alagoinhas, cidade do leste baiano, distante aproximadamente cem quilômetros da capital, cidade essa marcada pela presença das ruínas de uma igreja inacabada da ordem dos jesuítas.

                   Retornava de uma viagem ao litoral, e com o adiantado do horário, decidi descansar em Alagoinhas e, no dia seguinte, conhecer um pouco dessa cidade.

                  Acompanhava-me, no trajeto, Nayara que, por diversas vezes, aconselhara-me a não continuar enfrentando a estrada à noite.

                   Sabia da existência das ruínas na referida cidade, porém não conhecia sua história e nem a cidade em si. 

ruinas em alagoinhas

ruinas em alagoinhas

                   Hospedamo-nos em um hotel agradabilíssimo e de preço acessível.

                   O nome de Alagoinhas vem da referência dos pequenos alagados de diversos córregos e nascentes que a circulam, formados por uma das melhores águas do mundo, motivo pelo qual grandes cervejarias e indústrias estão instaladas naquele município.

                   Sua história inicia-se no final do século XVIII com a criação de uma capela e de uma pequena povoação da estrada que atravessava desde Salvador, pelo sertão baiano, rumo ao norte e ao Rio São Francisco.

                   A Igreja Matriz de Santo Antonio, construída no século XIX, veio a substituir a pequena capela. Naquela época, o aglomerado urbano já se expandia além desse ponto inicial do povoamento.

igreja de santo antônio

igreja de santo antônio

                   Grande expansão aconteceu com a passagem da ferrovia após 1880, que ligava Salvador ao norte, deixando para cidade um belo símbolo desse tempo: a estação ferroviária em estilo Inglês. 

Diversos ciclos de crescimento ocorreram na cidade, onde, a partir de 1964, diversos poços de petróleo foram descobertos e abertos pela Petrobras, além da implantação de diversas cervejarias.

As ruínas, por sua vez, principais símbolos da cidade, tiveram sua construção iniciada pela ordem franciscana.

ruínas

ruínas

Na manhã seguinte, assim que acordamos, cumprimos a tarefa de visitar a cidade, suas ruínas, praças, casas e igrejas. 

ruínas franciscanas

ruínas franciscanas

Iniciando pelas ruínas franciscanas, localizadas logo à frente de uma pequena praça de formato triangular e em ladeira, deixando as ruínas da igreja na parte superior.

fachada das ruínas em alagoinhas

fachada das ruínas em alagoinhas

Fotografei sua imponente fachada em pedras.

vista interna da igreja inacabada em alagoinhas

vista interna da igreja inacabada em alagoinhas

Adentramos sua nave principal; fiquei por minutos fotografando e analisando as grossas paredes de pedra, vendo, ao fundo, o local em que seria o altar, onde há uma área com diversas janelas, provavelmente um compartimento do complexo.

ruinas da igreja inacabada alagoinhas

ruinas da igreja inacabada alagoinhas

Observei também um piso em placas de rocha bastante interessante.

altar e piso igreja em alagoinhas

altar e piso igreja em alagoinhas

Finalizada a visita às ruínas, após conhecer algumas ruas da cidade, seguimos para a Igreja Matriz de Santo Antonio, onde, lá chegando, logo próximo dela, estacionamos o veículo, de modo a não prejudicar nem a realização de um conjunto de boas fotos da Igreja, tampouco da praça e do largo, onde iniciou aquele povoamento histórico.

matriz de santo antônio alagoinhas

matriz de santo antônio alagoinhas

A Igreja possui uma fachada singela com um belo relógio ao centro; à sua frente, uma grande cruz encravada em uma pequena base provavelmente de pedra, que simboliza seu largo.

Iniciei imediatamente um conjunto de fotos da Igreja, da cruz e dos casarios ao seu redor.

Finalizei minhas fotografias com um conjunto de fotos da praça da matriz local onde iniciou a povoação.

praça da matriz alagoinhas

praça da matriz alagoinhas

Aproximava-se das nove horas de manhã e o sol escaldante do verão no sertão já nos incomodava. Aproveitamos para tomar um reforçado café da manhã no hotel e, por fim, seguimos viagem.

Padre Santiago e as Igrejas de Paracatu

(por: José Rodolpho Assenço)

                        A História da “Villa de Paracatu do Príncipe” nos revela algumas etapas fantásticas e intrigantes. A do Padre Antônio Mendes Santiago, por exemplo, é uma delas.

                        Conhecedor de sua história, busquei fotografar as Igrejas de Paracatu, em especial aquelas que teriam sido por ele construídas.

igreja_de_santo_antonio

                        Padre Mendes Santiago participou e comandou tropas no levante denominado “Sedição”, acontecido no noroeste mineiro, notadamente no Vale do São Francisco, onde ele era vigário geral no ano de 1736. Padre Santiago, à frente de duzentos homens da tropa da latifundiária Dona Maria da Cruz, tomou a vila de São Romão.

                        Esse levante foi a luta entre os potentados do sertão. De um lado, os grandes proprietários de terra apoiados pelo Padre; e, de outro, aqueles que defendiam as ordens da capital da província. Essa luta foi considerada como marco final do domínio do sertão pelos proprietários, o que mudou o foco econômico, valorizando as regiões mineradoras.

                        Padre Santiago e os proprietários perderam a batalha. Tiveram suas terras e fortunas confiscadas. O religioso, porém, fugiu, tempos depois, e buscou refúgio na casa do bispo de Olinda.

                        Com a descoberta do ouro no Arraial de Paracatu, volta a cena a figura temida do Padre Mendes Santiago, tendo ele construído, em 1744, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e um belo largo de mesmo nome; já em 1746, edificou a Igreja de Santo Antonio de Manga (hoje Matriz de Santo Antonio), cujo nome veio da ordem do bispado em se construir uma Igreja em Manga para Santo Antonio.

matriz_de_santo_antonio igreja_do_rosario

                        O Padre teria mudado deliberadamente a intenção de se construir essa Igreja em Manga, e a trouxe para o Arraial. Logo em 1755, Santiago foi nomeado oficialmente vigário geral de Paracatu.

praça_da_matriz largo_do_rosario

                        Esse padre era considerado terrível e temido por todos. Dizia-se, à época, que era chefe do tribunal da Inquisição. Tornou-se também o chefe absoluto de todo o sertão. Cobrava taxas sobre o ouro auferido pelos garimpeiros; julgava os infiéis — ou quem não lhe pagasse os tributos — de forma severa com tortura e morte, além de confiscar-lhes os bens. 

                        Criou uma Irmandade que controlava as pessoas mais abastadas e que impunha as penas àqueles que cometessem crimes de não pagar os impostos por ele estipulados.

                     “A Irmandade das Almas, controlada pelo padre Santiago, vigiava as pessoas ricas e ajudavam o pobre a morrer. Os Carrascos dessa Irmandade eram o Dionísio e a sinhá Andreza.  A sinhá Andreza “tinha uma cara de corujão”, usava óculos quadrados, era obesa. Ela ajoelhava sobre o estomago de suas vitimas e apertava com força a garganta dos pobres enfermos, bradando: “Diga, Jesus, Irmão! Diga, Jesus, Irmão! Se não pode dizer de boca, diga de coração!.”” (SOUZA, Marcos Spagnuolo. Paracatu: sua história. Paracatu: [s.n], 1999. p.121.)  

                        Após muitos anos de horror, em 1761, a população de Paracatu representou ao bispo contra o Padre que, em 1767, por fim, vendeu e pegou toda a fortuna que conseguiu acumular em Paracatu, e sumiu.

                        Voltando às Igrejas que visitei, especialmente a de Santo Antonio, fui recebido por uma funcionária do turismo da cidade, que me apresentou o interior da Igreja e toda a nave: com piso de madeira e diversos túmulos abaixo;  altar principal, com muitos  santos; altares secundários e laterais.   

nave_da_igreja_de_santo_antoniodetalhes_das_portas

 

 

altar_secundario altar_lateral 3 altar_lateral 2 

                        Pude observar que havia, nas duas laterais da Igreja, balaustres em formato de sacada que, segundo me relatou a jovem, o padre usava para falar ou gritar mais perto de seus fiéis. Nesse momento, questionei se ela tinha conhecimento da história do Padre Mendes Santiago, e ela me confirmou que sim. Sabia que ele tinha sido o construtor da referida Matriz e que também havia cometido algumas atrocidades na região.

balaustre altar_lateral 1

                        Feliz com o conjunto de fotos realizadas e de ter materializado toda a história que pesquisei, dei-me por satisfeito.