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MARIA DA CRUZ – O Poder da Matriarca do sertão em Pedras de Baixo

(por: José Rodolpho Assenço)

                   Dona Maria da Cruz, possuidora de um histórico envolto entre levantes e batalhas, é o principal símbolo do poder dos latifundiários do São Francisco, possuidores de verdadeiros feudos, com direito a tropas e leis próprias.

                   Fiz questão de visitar Pedras de Maria da Cruz, antiga Pedras de Baixo, cidade da latifundiária, sede de seu potentado no norte de minas.

                   Saí com Nayara logo após o almoço para visitar Maria da Cruz, já havíamos passado ao largo, quando da travessia da ponte sobre o rio São Francisco.

ponte em pedras de maria da cruz

ponte em pedras de maria da cruz

                   Nascida em Penedo, Alagoas, de família abastada, casou-se com o paulista Salvador Cardoso de Oliveira, também possuidor de grandes fortunas.  Salvador, no final do século XVII, em partilha das terras que vinham sendo ocupadas pelos sertanistas às margens do São Francisco, garantiu uma imensa quantidade de terra nas bordas do rio e criou o Sítio das Pedras.

                   O casal teve vários filhos. Salvador veio a falecer em 1734. A partir dessa data Maria da Cruz passou o coordenar toda atividade da fazenda e da vila. Naquela propriedade havia também diversos engenhos. Construíram, na vila, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

                   Maria da Cruz e outros latifundiários tinham como prática não recolher os impostos à Coroa, comprava ouro de garimpeiros por valores menores e os revendiam com lucro. Separados pela imensa distância da província e dos grandes centros, criavam suas próprias regras e nada respeitavam de imposição da Coroa.

                   Por fim, em 1735, a Coroa Portuguesa, diante desses desmandos e também levando em conta o imenso poder desses latifundiários, decidiu criar um imposto aos sertanistas.

                   Esse contexto levou a Sedição grande levante dos amotinados descontentes, em especial com as novas regras da Coroa. O primeiro ocorreu em março de 1736, momento esse em que teria Maria da Cruz, com aproximadamente novecentos homens, invadido o arraial de São Romão.  Batalhas muito sangrentas, acompanhadas de vandalismos, assassinatos etc… Porém, antes do final desse mesmo ano, o conflito foi controlado por tropas, o que levou Maria da Cruz a ser presa e posteriormente condenada a desterro: África por alguns anos.

                   Maria da Cruz faleceu em suas terras em 1760 e foi enterrada, na cidade, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição.

casarão em pedras de maria da cruz

casarão em pedras de maria da cruz

                   Pois bem, em minha visita a Pedras de Maria da Cruz, já tinha conhecimento que nada mais restava da antiga vila, ainda assim queria registrar a cidade e sua ligação a essa poderosa latifundiária.

pedras de maria da cruz

pedras de maria da cruz

                   Foi dessa forma que chegamos à cidade, descemos por uma avenida comercial bem larga e pouco movimentada, até atingirmos a parte velha da cidade.  Com uma população pequena e tranquila, a cidade tem na pecuária e nos alambiques sua principal renda.

outeiro da igreja de nossa senhora da conceição

outeiro da igreja de nossa senhora da conceição

                   Chegando à parte velha, estacionei abaixo do outeiro onde se encontra a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e logo partimos em direção ao topo, subindo uma escada antiga bem mais antiga que a Igreja e com degraus altos e mal feitos.

maria da cruz

maria da cruz

                   No platô, aproveitei para tirar inúmeras fotos da capela em diversos ângulos.

capela de nossa senhora da conceição

capela de nossa senhora da conceição

                   Em seguida, desci a rua à esquerda da capela no intuito de fotografar o porto, o rio e a grandiosa ponte que dá acesso ao restante de minas a Januária e demais cidades do lado oposto.

casa antiga em pedras de maria da cruz

casa antiga em pedras de maria da cruz

                   Era fevereiro e o calor às margens estava próximo do insuportável, e logo retornamos ao carro, parando ainda algumas vezes para registrar casas e um belo casarão.

casa em maria da cruz

casa em maria da cruz

                   Prosseguimos nossa viagem contentes de ter conhecido Pedras de Maria da Cruz, cidade da cachaça e da Matriarca do sertão.

pedras de maria da cruz

pedras de maria da cruz

Fontes: D.Maria da Cruz e a Sedição 1736, Angela Vianna Botelho e Carla Anastasia / em.com.br , Tiago de Holanda

 

LAGOLÂNDIA e a incrível história de Santa Dica

(por: José Rodolpho Assenço)

                        Lagolândia, pequeno povoado com pouco mais de 500 habitantes, distante 38 quilômetros de Pirenópolis, Goiás, preserva a incrível história de Santa Dica, Benedita Cipriano Gomes.

casas_em_lagolândia

casas_em_lagolândia

                        Em determinado domingo, estava na referida cidade goiana — acompanhado do fotógrafo Cleber Medeiros e de sua namorada Jaque —, fotografando a cidade. Decidimos logo cedo seguir pela estrada com destino àquele pequeno povoado, a fim de conhecê-lo, bem como ouvir um pouco sobre a vida de Dica.  Saímos logo cedo e, no percurso, tivemos que enfrentar uns cinco quilômetros em estrada não pavimentada, mas logo chegamos ao local, onde nos aguardava o fotógrafo Henrique Ferreira, amigo de Cleber.

lagolândia

lagolândia

                        Tínhamos pouca informação sobre o local. Nossa intenção era conhecer melhor a história desse povoado, bem como fotografar tudo que achássemos interessante.

                        Tomamos conhecimento de que uma menina chamada Dica, Benedita Cipriano Gomes, nascida em 1903, nessa região, morava numa fazenda no referido local. Aos sete anos, adoeceu ao ponto de perder todos os sinais vitais e teria sido considerada morta, porém seu corpo ainda suava muito e, por isso, acharam por bem esticar o velório por alguns dias. Logo no terceiro dia, para espanto de todos, Dica ressurgiu viva e recuperada.

                        O assunto se espalhou pela região e diversas romarias começaram a acontecer, trazendo fiéis em busca de benção.  Essa romaria crescia a cada ano. E Dica, já adulta, tinha adoradores de todas as partes. Em volta de sua casa, rapidamente formou-se um arraial, onde ela distribuía terras a seus devotos, chegando a ter aproximadamente quinze mil fiéis.

busto_de_santa_dica

busto_de_santa_dica

                        Ela também criou um exército e seu poder começou a incomodar as autoridades e fazendeiros poderosos da região. Seus adoradores, porém, juravam protegê-la contra qualquer tentativa de prisão, mas isso, no entanto, veio a acontecer em 1925, quando uma força do Estado invadiu a região.

                        Nessa ocasião, houve um tiroteio, porém apenas três pessoas morreram. Dizem que as balas batiam em Dica e em seus fiéis e caiam no chão como grãos de feijão.  Ela e alguns seguidores fugiram pelo fundo da casa, em direção ao Rio do Peixe, por ela denominado como rio Jordão. Consta que teria ela colocado uma sucuri no fundo do poço desse rio, que impedia a tropa de atravessá-lo, mesmo assim, foi presa. O interessante é que, até os dias de hoje, a população local não mergulha naquele local, com medo da tal sucuri.

                        Sua prisão demorou pouco tempo, tendo em vista a pressão popular sobre o caso, bem como não terem motivos efetivos para mantê-la atrás das grades.

                        Dica casou-se com um jornalista Carioca, que foi prefeito de Pirenópolis em 1934, participou também da Revolução Constitucionalista em 1932. Sua tropa voltou sem nenhuma baixa, o que foi considerado mais um milagre atribuído a Dica. Dizem também que essa tropa, naquela ocasião, teria atravessado, com os olhos vendados, uma ponte minada, sem que mina alguma tenha disparado. Outro registro é que tal força teria também enfrentado, com sucesso, a coluna Prestes.

                        Dica faleceu em 1970, em Goiânia, e foi sepultada conforme havia solicitado, na gameleira em frente a sua casa.

gameleira

gameleira

                        De volta a Lagolândia, estacionamos o carro na praça e fomos, imediatamente, fotografar a Igreja de Nossa Senhora da Conceição. Em seguida, a grande praça excessivamente ajardinada, onde se via o busto de Santa Dica.

igreja_de_nossa_senhora_da_conceição

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                        Descendo a rua lateral, chegamos a uma praça e paramos em um mercado situado no térreo do único prédio com três pavimentos do povoamento.

casas_e_praça_em_lagolândia

casas_e_praça_em_lagolândia

Depois de um rápido lanche, partimos para a casa de Santa Dica.

casa_de_dica

casa_de_dica

                        Chegando lá, pudemos observar que o piso é de barro batido, não tendo nenhum tipo de calçamento; bancos dos dois lados, um pequeno altar na parede do fundo e um quadro de Dica quando era jovem.   Observamos ainda todo o teto dos diversos recintos da casa, incluindo a varanda com bandeirolas, o que sugere ter havido alguma festa recentemente.

altar_e_foto_de_santa_dica

altar_e_foto_de_santa_dica

                        Depois, seguimos até as margens do poço do Rio Jordão e, por fim, fomos conhecer a famosa gameleira e o túmulo de Dica.

rio_jordão_em_lagolândia

rio_jordão_em_lagolândia

                        Impressionamo-nos como as raízes da gameleira entremeadas abraçavam o túmulo como se quisesse segurá-lo. Ficamos certo tempo observando e fotografando o local.

tumulo_de_dica

tumulo_de_dica

                        Concluímos assim nossa missão de conhecer e materializar em fotos essa história intrigante.