(por: José Rodolpho Assenço)
São José de Espinharas, cidade encravada no alto sertão paraibano, no meio norte do estado, tem em seu velho casario da fazenda São José sua história que hoje está deteriorada pela ação do tempo e pelo abandono de seus proprietários.
Em um sábado, coincidentemente no dia de São João, participei de um almoço de família na Fazenda Bonita, de propriedade de meus anfitriões, onde pude conhecer a verdadeira comida do sertão, sendo surpreendido por uma iguaria: o rubacão, que consiste em um pirão mole feito na nata com arroz feijão verde, linguiça, pele e queijo coalho, algo próximo de um engrossado.
Após o almoço, decidi seguir de retorno a Patos (PB), por uma estrada de uns trinta quilômetros de terra, mas em bom estado que me daria a oportunidade de conhecer São José de Espinharas, cidade às margens de um afluente do Rio Espinharas. Seguiu, nesse retorno, minha amiga Tatiana, que tem sua família natural da região e de quem é sobrinha do atual Prefeito.
A região de Espinharas era habitada inicialmente pelos índios, que aproveitavam das águas do rio e das terras férteis em suas margens para caçar e produzir pequenos cultivos.
Em 1826, o então Comandante José Raimundo Vieira, vindo de Icó, no Ceará, adquiriu terras no montante de seis léguas quadradas, local onde instalou a fazenda São José, construindo, em 1932, uma grande casa na qual veio, em seguida, a residir com sua esposa, Clementina Sotero de Melo.
O Comandante José Raimundo teve uma filha que, no futuro, veio a se casar com um cavaleiro da Ordem Imperial Miguel Satyro de Sousa. E ambos vieram a residir na mesma sesmaria.
Miguel Satyro, extremamente religioso, doou terras para construção da Primeira Capela e para o cemitério. Diversos sertanistas transferiram-se para a região formando o primeiro núcleo urbano.
Assim que entramos na cidade de Espinharas, deparamo-nos com o antigo casarão, sobre o qual questionei se teria sido presídio, pois tinha algumas barras de ferro em suas janelas. Parei o veículo e desci para algumas fotos do grande e belo casarão em ruínas, ainda sem conhecer sua história.
O Casarão se encontra deteriorado e seu telhado sinaliza desabar a qualquer instante, o que seria, por demais, perigoso, uma vez que, sem proteção para chuvas, certamente essas ruínas deixaram de existir.
Segui conhecendo as ruas da cidade, parando em algumas delas para fotografar.
Deixei para estacionar defronte a matriz, perto de uma bela praça, seguida de uma alameda, no intuito de fotografar a referida Igreja, o que fiz logo em seguida.
Adentrei em sua nave aproveitando também a oportunidade para fotografar o altar-mor,
bem peculiar com uma meia abóboda composta de pinturas de céu e anjos.
Em seguida, voltamos para a praça e para a alameda, onde se encontra um bar chamado Coreto Central, local onde nos sentamos para tomar uma cerveja e aliviar um pouco o calor do sertão.
O dono do estabelecimento, Sr. José, logo começou a perguntar de onde éramos o que fazíamos ali, e se iríamos ficar para a festa de São João da cidade, que ocorreria logo mais à noite.
Nesse momento, Tatiana perguntou sobre a cidade, se era um local bom para se morar, algo que o Zé confirmou e completou, informando que tinham um prefeito bom e pagador. Nesse momento, ela o informou tratar-se de seu tio Renê.
Prosseguimos a conversa por mais alguns minutos e logo o Zé resolveu presentear-nos com um tira-gosto especial: uma porção de tripa frita. Desculpamo-nos pois tínhamos jantado a pouco tempo atrás.
Dia seguinte em um churrasco em companhia do prefeito não me contive e sugeri que reformassem o casario para uma casa do artesão ou museu local, quando me informou que era propriedade particular, e o acesso aos proprietários para tal finalidade ainda era difícil.