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TEOTÔNIO SEGURADO e a Comarca do Norte

(por: José Rodolpho Assenço)

                         Quando de minha penúltima viagem ao Tocantins, não pude deixar de retratar, nas cidades históricas desse novo Estado, momentos da vida de Joaquim Teotônio Segurado, português de nascimento, porém radicado em nosso país e apaixonado pelo Brasil Central. Foi advogado, escritor, ouvidor, comendador, corregedor, desembargador, deputado e governador.

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                        Nascido em Moura, Portugal, no ano de 1775, iniciou sua vida pública em São João del Rei, Minas Gerais. Foi nomeado desembargador da relação do Rio de Janeiro em 1805. Já em 1808, foi nomeado desembargador da comarca de Goiás. Desempenhou as funções com muito esmero e criou um projeto para buscar alternativas comerciais para a então capitania, construindo estradas, companhia de comércio e navegação no Rio Tocantins, além de ter desenvolvido a lavoura na região.

                        No ano de 1809, o Príncipe Regente dividiu a capitania em duas comarcas. Permaneceu a Comarca do Sul com Vila Boa e a Comarca do Norte, ou Comarca de São João de Duas Barras, com os arraiais de Natividade, Porto Real, Conceição, Arraias, São Felix, Cavalcante, Flores e Traíras. Determinou ainda o referido Príncipe que a nova comarca seria dirigida pelo ouvidor Joaquim Teotônio Segurado.

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                         Logo em 1814, Segurado seguiu para Natividade, capital provisória da nova comarca, enquanto não cumprisse as determinações do príncipe de se criar uma Vila que inicialmente pensava-se seria na junção dos rios Tocantins e Araguaia, algo que não se concretizou devido aos constantes ataques indígenas e a Maleita.

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                        Em 1815, instalou a Vila de São João de Palma (hoje Paraná, TO) para ser a sede.

                        Teotônio Segurado lutou pela independência da Comarca do Norte da Capitania de Goiás e conseguiu, por intermédio de Dom João VI, estatuto de capitania para ela.

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                        No Reinado do Regente Dom Pedro I, foi também eleito deputado pela Província de Goiás nas Cortes Portuguesas e, por fim, seguiu para Portugal.

                        Com a independência do Brasil, perdeu todos os títulos que tinham sido concedidos por Portugal. Provavelmente devido as lutas pela separação da província, Segurado não foi agraciado por Dom Pedro I, mas, ainda assim, voltou ao Brasil para morar em sua fazenda na Vila de Palma com a esposa e os filhos.

                        Nesse novo contexto é certo de que houvera um retrocesso comercial da comarca, e houve esforços para reunificar Tocantins ao Sul goiano.

                        Por fim, aos 56 anos de idade, isolado pelas lideranças da Província e do Reinado, morreu assassinado pela própria esposa, Bruna Maria Santanna, em sua fazenda, em 14 de outubro de 1831.

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                        Esse grande homem somente teve seu merecido reconhecimento há muito pouco tempo. Deu nome a principal avenida da capital do Tocantins, Palmas. Além disso, o Tribunal de Justiça do Tocantins criou a comenda Teotônio Segurado, a maior homenagem do estado aos cidadãos ilustres.

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                         Com fotos de Natividade e em especial da casa onde Teotônio Segurado residiu — que fica bem enfrente da Igreja Matriz de Nossa Senhora de Natividade e ainda fotos de outra casa que dizem, fora erguida por ele em formato de palácio — busquei mostrar o cotidiano dessa importante figura.

Deserto do Jalapão

(por: José Rodolpho Assenço)

                        O Deserto do Jalapão compreende uma grande extensão de terra desde o meio oeste do Estado do Tocantins até a divisa com a Bahia.  Compreende inúmeras terras devolutas, contando, porém, com outras declaradas como Parque Estadual, incluindo-se, nesse contexto, o pequeno Município de Mateiros, como um oásis diante de tamanho vazio.

                        Trata-se realmente de um deserto que, na expressão correta da palavra, significa uma área desabitada ou quase desabitada. Dessa forma, vamos nos ater principalmente ao deserto propriamente dito, a região arenosa e repleta de dunas dentro do Parque Estadual do Jalapão.

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                        No caminho, ao longe, observamos a imponente e bizarra imagem da Serra do Espírito Santo, que é composta de sedimentos areníticos. É de lá que, ante o efeito do vento, vem a areia que forma o deserto logo abaixo.  Impressionante, uma visão diferente de todas as serras que já conheci, uma vez que essas erosões evidenciam paredes de areias em cores e formações diferentes, provocando rara beleza.

                        Já próximo das dunas, passamos por uma singela lagoa que compõe um belo visual também com a serra ao fundo.

                        Após desembarcarmos de uma caminhonete e fazermos uma breve caminhada, chegamos ao sopé da principal duna, provavelmente a mais alta do parque, onde, em sua base, corre, serpenteando a duna, um córrego que provavelmente abastece a lagoa logo abaixo.

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                        Ainda era começo da tarde, quando iniciamos a árdua subida da duna. O parque estava deserto. Somente eu e os companheiros Cleber e seu filho Danilo, que disse estar feliz com a excursão no deserto.  Chegando ao topo, colocamos alguns equipamentos no chão e partimos então na busca do maior e mais completo número de fotos do local.

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                        Ficamos fotografando por horas. À medida que o tempo ia passando e o final da tarde se aproximava, a coloração, tanto das areias das dunas, como da Serra do Espírito Santo, iam mudando a cor da areia para um amarelado mais escuro.

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                        Percebemos então que teríamos realmente que aguardar no local até o entardecer para buscar imagens únicas, ou de grande beleza.

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                        Do topo, conseguimos produzir algumas fotos. Procuramos nelas apresentar a profundidade do deserto até o sopé da serra, bem como diversas dunas de tamanhos menores mescladas com um tipo de vegetação que se assemelha a da caatinga.

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                        O local sofre de infestação de Mutuca, uma mosca semelhante a uma pequena mariposa e que se alimenta de sangue.  Quando me surpreendi com uma imagem: Danilo  matava sequencialmente as mutucas que pousavam em sua perna, e já havia um pássaro que o acompanhava com o objetivo de comer essas moscas esquisitas, por ele arremessadas à areia.  Diversão estranha e inusitada.

                        Ao entardecer tivemos inesperadas companhias: algumas excursões que tinham por objetivo levar seus clientes às dunas, justamente ao entardecer, para observar as mudanças de cores na serra e em todo o visual.                                       Tais visitantes, porém, não nos atrapalharam a produzir um grande número de fotos com diferentes condições de iluminação.

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                        Por fim, exaustos, tendo em vista que passamos praticamente toda a tarde em pé e em cima das dunas, caminhando em alguns momentos, foi quando o amigo Cleber me convidou para descer a duna e iniciar, dessa feita, uma série de fotos de baixo para cima, na contraluz. 

                       Durante essa nova empreitada, surgiu uma repentina dor no joelho, devido a uma fragilidade de menisco. Avisei, então, ao companheiro que não tinha mais condições de descer e subir, ou ainda, que, se descesse, não subiria mais. Consegui arrancar alguns risos do Cleber. Logo em seguida, finalizamos o nosso trabalho no deserto.