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URUPEMA e a Cachoeira que Congela

(por: José Rodolpho Assenço)

                        Urupema é uma pequena cidade no alto da Serra Catarinense, provavelmente a única que apresenta incidência de geadas em todos os meses do ano, com frequente queda de neve de maio a setembro.

                        Quando em minha peregrinação acompanhado das crianças (joão Guilherme e João Victor), pela Serra Catarinense, tive a oportunidade de refrescar minha memória no tocante a existência desse local. Contou-me um senhor que a cidade São Joaquim é famosa pela neve e por ser uma cidade maior, porém a mais fria do Brasil e com a menor sensação térmica seria Urupema.

                        Estávamos nessa empreitada justamente em busca do desconhecido — ou pouco conhecido — e percebemos que uma oportunidade como essa não poderíamos desperdiçar.   Logo à noite, comuniquei aos meninos nossa tarefa para o dia seguinte: um percurso de aproximadamente setenta quilômetros, por uma estrada bastante sinuosa até a pequena Urupema, bela cidade,  e a mais fria do Brasil.

vista_de_urupema

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                        Saímos cedo, logo após o café no intuito de passar todo o dia tentando conhecer as belezas naturais do local.

                        Urupema, que possui hoje 2.500 habitantes, surgiu devido à fartura de Pinheiro-do-Paraná, a araucária brasiliense, ou araucária angustifólia, o que fornecia madeira, lenha e alimento em grande quantidade. A economia da cidade, por muitos anos, esteve atrelada à extração dessa madeira.

casa_de_madeira_em_urupema

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                        Em uma pequena planície cercada de serras, com uma altitude de 1430 metros acima do nível do mar, com temperaturas mínimas, planuras essas que são coincidentemente as mais baixas do pais, com média anual de 12 graus, nos meses de outono e, no inverno, sua máxima, mesmo durante o dia, raramente ultrapassa os 5 graus.

igreja_matriz_de_santa'anna_em_urupema

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                        Assim que chegamos à pequena cidade, estávamos com o carro fechado e climatizado. Logo procuramos a praça central e a Igreja, onde estacionamos próximo dela.  Estávamos todos com casaco, cachecol e gorro. Foi nessa oportunidade que peguei minha máquina fotográfica para iniciar a visita pela Igreja e, em seguida, percorrer a praça e a cidade.

                        Subimos a escadaria da Igreja Matriz de Santa’Anna. O vento era cortante e a temperatura deveria estar abaixo de zero. As crianças se divertiam com a sensação térmica do local.  Naquele momento, ao mesmo tempo em que queria tirar fotos, inclusive da Matriz, preocupava-me com o conforto dos meninos e, assim, me dispersei quanto aos detalhes da Igreja, apenas registrei algumas fotos.

praça_da_igreja_matriz_em_urupema

praça_da_igreja_matriz_em_urupema

                        Para nossa surpresa, fazia semelhante frio no interior da igreja, pois suas janelas abertas não impediam a ação do vento que nos castigava bastante.

                        Instantes depois, saímos de lá para passear pela praça. O frio, naquele momento, algo em torno de 10 horas da manha, era tão intenso que convidei os que me acompanhavam a retornar ao carro, o que fizemos de imediato para buscar mais cachecol e luvas, tentando nos equipar melhor e, assim, seguimos para a visita à praça.

casa_em_urupema

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                        Havia no local um jovem casal que também visitava a cidade, porém, não resistindo à ação do vento, desistiram desse intento.

urupema

urupema

                        Após essas visitas iniciais, seguimos pelas principais ruas da cidade. Esta parecia quase deserta, poucas lojas abertas.

avenida_principal_em_urupema

avenida_principal_em_urupema

Pude observar a existência de dois hotéis, padaria e dois outros restaurantes, nada mais.

urupema

urupema

                        Logo encontrei com um nativo que me falou sobre a serra e principalmente de que deveria visitar a Cachoeira que congela, distante poucos quilômetros da cidade.  Após esse comentário sobre a cachoeira, os moleques estavam aguçados para conhecer tão diferente corredeira; riam bastante, pois nunca foram a uma cidade com uma cachoeira desse tipo.

                        Seguimos pela estrada e logo chegamos à entrada de terra que segue mais uns dois quilômetros até a cachoeira.

estrada_para_cachoeira_que_congela

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Paramos o carro e, novamente, enrolados em cachecóis e toca, embrenhamos pela mata em uma trilha bem feita, que não muito distante, nos levou à cachoeira.

                        Logo na entrada da trilha, existe uma placa dando informações sobre ela, que costuma congelar nos dias mais frios, onde a temperatura local fica normalmente por volta de cinco graus negativos. Sua altitude em relação ao nível do mar é de 1580 metros.

placa_na_cachoeira_que_congela

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                        A cachoeira fica à sombra da serra e com uma mata exuberante, o que dificulta a ação do sol e, por esse motivo, somado ao frio intenso, ela congela realmente, chegando a ficar nessa condição por dias. Mais uma vez os meninos acharam o máximo as fotos da cachoeira congelada.

                        Na cachoeira, no exato momento em que estivemos, não estava congelada. Fiquei muito atento para que nenhum dos meninos viesse a molhar o pé ou o calçado, o que aumentaria muito a sensação de frio e causaria incômodo no nosso retorno.

cachoeira_que_congela

cachoeira_que_congela

 

                        Mais uma vez, o vento apertou bastante e decidimos retornar pela trilha até o carro.  Voltamos a Urupema, passamos pela praça central e percebemos que uma emissora de televisão do estado fazia uma reportagem no referido local.

                        Logo mais à noite, tomamos conhecimento, em jornal de rede nacional, que, naquela manhã, em Urupema, a temperatura estava abaixo de zero e com sensação térmica de menos dezenove graus.

 

BOM RETIRO – uma história de familia

(por: José Rodolpho Assenço)

                        Bom Retiro é uma simpática cidade da serra catarinense. Tive a oportunidade de visitá-la nesse inverno e defrontar-me com suas belezas e com uma envolvente história de família.

bom retiro

bom retiro

 

                        Em minha viagem a serra, passeando, conhecendo e fotografando diversas cidades, tinha em mente duas possibilidades: a primeira, que me parecia mais interessante, seria partir de São Joaquim, descer a Serra do Rio do Rastro — famosa por infindáveis curvas e rara beleza;  e a segunda seria seguir diretamente rumo ao litoral e descer a BR-282, passando por Bom Retiro, conhecendo, assim,  a cidade em que meu avô materno foi Prefeito no século passado, na década de 30.

                        Hospedado em Lages, em determinada noite, após ter deixado os meninos (meu filho e o filho de minha companheira) dormindo no hotel, achei por bem ir até a um restaurante próximo para comprar alguns gêneros.   Nesse local, encontrei um senhor de nome Gilberto, que me disse ser lenhador, mas que, na verdade, trabalha com derrubada de pinheiro americano para atender à indústria de celulose. Ele me informou que seu carro havia quebrado em Lages e que aguardava a carona para casa, em Bom Retiro.

                        Convidei-o para tomar uma cerveja. Tinha intenção de dele obter mais informações sobre a sua cidade. E assim ocorreu. Na conversa, me contou ser primo primeiro do atual Prefeito. Foi a deixa para que eu lhe informasse ter sido meu avô  Prefeito de Bom Retiro.

                        Nesse contexto, disse-me o senhor Gilberto que eu não poderia então deixar de visitar Bom Retiro, pois, no acesso à Prefeitura dessa cidade, havia um hall com o registro fotográfico de todos os Prefeitos desde sua emancipação.

prefeitura de bom retiro

prefeitura de bom retiro

 

                        Diante dessas informações e imbuído da curiosidade de encontrar uma foto de meu avô na Prefeitura, decidi que a viagem inicialmente planejada a Serra do Rio do Rastro ficaria para outra oportunidade.

                        Chegado o dia de descer a serra, comentei ainda com meu filho: “Na volta, vamos entrar em Bom Retiro, que é para você conhecer um pouco da história de seu bisavô.

                        A história de Bom Retiro está ligada à construção de uma estrada que ligaria Lages a São José (vizinha a Florianópolis) no ano de 1787, onde ficou incumbido o Alferes Antonio Marques Arzão para tal feito, e que foi concluída em 1790. Porém, durante esses anos de obra, descobriu também o Alferes essa região, a qual lhe teria dado o nome de campos do Bom Retiro, e cujas terras foram por ele requerida ao Governo Provincial.

                        De suas terras, há uma localidade chamada Guarda Velha, onde ele construiu também uma outra estrada em pedras cujos vestígios existem até hoje.

                        Bom Retiro foi elevada à condição de Município em 1922 pelo então Governador Hercílio Pedro da Luz.

jardim_em_bom_retiro

jardim_em_bom_retiro

 

                        Após essa rápida abordagem histórica, volto a minha até então nova missão de mostrar algo sobre o bisavô a meu filho.  E assim que entramos na cidade, estacionei o carro em uma simpática e ampla praça, onde descemos e onde pude tirar algumas fotos.  O tempo era curto, pois não queria atrasar nossa viagem ao litoral.

praça_de_bom_retiro

praça_de_bom_retiro

 

                        Seguimos por algumas ruas  paramos para novas fotos na Igreja Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que foi inaugurada em 1946.  

rua_da_igreja_de_bom_retiro

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Da Igreja e de uma pequena praça a sua frente, é possível avistar boa parte da cidade.

igreja_de_nossa_senhora_do_perpetuo_socorro

igreja_de_nossa_senhora_do_perpetuo_socorro

 

                        Por fim, parti para minha missão especial: visitar a Prefeitura e quem sabe, mostrar a meu filho dados sobre seu bisavô.

jardim_da_igreja_de_bom_retiro

jardim_da_igreja_de_bom_retiro

 

                        Logo que chegamos, tomamos um café rapidamente na padaria, momento em que aproveitei para fotografar também a Avenida e parte da cidade, bem como a singela fachada da citada casa.

vista_de_bom_retiro

vista_de_bom_retiro

 

                        Assim que entramos na prefeitura, deparamo-nos com as imagens em uma escadaria era a galeria dos ex-Prefeitos de Bom Retiro Confesso que, inicialmente, não conseguia encontrar a foto do Vô Alfredo, até que fui alertado por um dos meninos que havia um “Montenegro”, nome de nossa família, logo à frente.

galeria_dos_ex_prefeitos_de_bom_retiro

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                        Localizado nosso ex-Prefeito, tive uma sensação de satisfação tão grande por ter realizado esse pequeno feito que, de impulso, tirei o quadro da galeria, desprendendo-o da parede,  e o entreguei a meu filho para que posasse para algumas fotos com seu bisavô.

josé_alfredo_montenegro

josé_alfredo_montenegro

 

                        Finalizada a missão voltamos a nossa rota sentido ao litoral.