(por José Rodolpho Assenço)
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, no distrito de Brejo do Amparo, município de Januária, Minas Gerais, é a segunda mais velha de Minas.
Em minha viagem a Januária, fiz questão de, em uma manhã, conhecer essa Igreja. Trata-se de uma construção de porte médio, parcialmente arruinada, com um povoado minúsculo a seu redor.
Consta que, por volta de 1640, algumas famílias se instalaram numa localidade chamada de Porto Salgado (exatamente onde hoje se encontra Januária), no intuito de atender e hospedar tropeiros, viajantes e canoeiros. Existia, porém, uma aldeia indígena que realizava inúmeros ataques aos invasores.
Foi designada a Manuel Pires Maciel a missão de invadir a aldeia, ficando acertado que a este seria concedida a posse das terras que estavam à distancia de uma légua da margem do Rio São Francisco, da localidade de Porto Salgado. E assim aconteceu, ele partiu com muitos homens armados e promoveu a matança dos índios da aldeia.
Ele fundou um novo arraial, que atraiu demais residentes de Porto Salgado para o local, por não sofrer inundações do rio.
Foi incumbido também construir uma capela dedicada a Nossa Senhora do Amparo e arraial que se formou passou também a se chamar de Arraial de N.S. Amparo.
É o núcleo inicial do povoamento e constituição da futura cidade de Januária.
Por sua vez em 1688, foi construída a Igreja de Nossa Senhora do Rosário em uma obra orientada por jesuítas, com pinturas em sua abóboda, guarda-corpo, piso em placas de madeira, capela e altar em colunas torcidas em um povoamento vizinho, chamado Barro Alto.
Em 1989, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário foi tombada pelo Iepha – Instituto Histórico Estadual, porém nenhuma benfeitoria foi feita e, por fim, o teto dessa edificação veio a desabar, o que provocou uma grande reação da sociedade e em especial no Governo de Minas que, em sequência, anunciou a recuperação do referido templo.
Acompanhava-me nessa empreitada Nayara Viana que, de tanto me ouvir falar nesse prédio histórico, também já tinha grande curiosidade de conhecê-lo. Atravessamos toda a cidade de Januária e seguimos por uma rodovia que liga essa ao distrito de Brejo do Amparo e, logo assim que chegamos, pedimos orientação sobre como chegar até o Barro Alto, povoamento distante três quilômetros do distrito.
Com as devidas informações, seguimos por uma estrada de terra extremamente estreita, com diversos córregos, atravessando algumas pontes de madeira. Percorremos esse trecho com muito cuidado e bem lento por aproximadamente uns dois quilômetros, até chegar ao início do povoamento, momento em que a estrada se transformava em uma enorme vala com muita lama por todo lado.
Ainda tentamos prosseguir. Com medo de atoleiro, porém, tivemos que desistir da ideia, e subimos com o veículo em uma pequena rampa com a intenção de, na descida, evitar o atoleiro. Ainda restava aproximadamente uns mil metros de atoleiro pela frente e, com a máquina fotográfica na mão, iniciamos uma caminhada lenta sobre a lama, que nos fazia deslizar. Mesmo assim, seguimos até o momento em que avistamos acima a cruz em madeira e parte da fachada da Igreja.
Iniciamos a subida e logo estávamos no platô da Igreja, passando, na chegada, por um pequeno cemitério parcialmente abandonado.
Ali paramos para observar tudo o que nos rodeava. Fotografamos a fachada, a cruz em madeira de lei. Circulamos pela igreja também no intuito de colhermos outras fotos em diversos ângulos, de forma a retratar o melhor possível tão impressionante e belo monumento.
Estava a Igreja cercada e com um galpão de obra em madeira ao lado do qual partiu em nossa direção um senhor, na verdade um artesão carpinteiro, que nos indicou o acesso à área cercada.
Ao entramos na Igreja, visitamos a nave, o altar e suas pinturas parcialmente destruídas pelo desabamento.
O citado artesão, de nome Araújo, informou-nos que trabalhava para uma construtora de Minas Gerais, responsável e contratada para o trabalho de recuperação desse importante templo. Relatou-nos também sobre seu trabalho de desmontar o telhado caído, separando as peças para serem aproveitadas; mostrou-nos, ainda, um cômodo onde guardava cuidadosamente portas, portais e placas de madeira para a reconstituição.
A Igreja consta com uma sacada na lateral esquerda e um grande cômodo na lateral direita, uma casa paroquial ao fundo em prolongamento.
Composta em um estilo rústico, possui uma torre sineira com um símbolo em sua ponta. Cercada na lateral e ao fundo por balaústres e paredes em arco.
Prosseguimos fotografando o local, na tentativa de registrar, em meio a ferramentas e entulhos, o máximo possível daquele ambiente.
Após inúmeras fotos, voltamos nossa atenção ao Senhor Araújo, que ainda nos prestou diversas informações sobre a recuperação da Igreja e sobre o trabalho dele.
Finalizando a inesquecível visita, retornamos a Januária para desfrutar de uma peixada, tudo previamente combinado com amigos para aquele dia.