(por: José Rodolpho Assenço)
O Paraíba e suas ruínas fazem parte da história recente da Serra dos Pireneus em Goiás. Ele é uma simples sentinela, um eremita, um faroleiro em meio às pedras e ao isolamento.
Em nossa viagem a Serra dos Pireneus, à medida que o trajeto ia sendo vencido, aproveitava para contar ao fotógrafo Cleber Medeiros as minhas aventuras quando jovem, naquela região, quando, por inúmeras vezes, acompanhado pelos radioamadores de Brasília, íamos ao local para instalar e dar manutenção a equipamentos eletrônicos, repetidores.
Entre muitas histórias, uma chamou bastante atenção de Cleber. Tanto é que ele desejou visitar o local onde ela ocorrera, e registrar, em fotos, as ruínas deixadas por um passado recente.
Em meio a Serra dos Pireneus, no final da década de oitenta, aproximadamente em 1989 — acompanhado de um grupo de radioamadores no intuito de substituir um equipamento repetidor que fazia a ligação entre os aficcionados de Brasília com Goiânia —, tive a oportunidade de fazer minha primeira visita ao local. Nessa época, havia duas grandes torres de aproximadamente cem metros cada uma no platô próximo ao morro da capelinha.
À época, cheguei ao local e fui recebido pelos amigos que preparavam um churrasco, enquanto outros organizavam os equipamentos eletrônicos. Não tardaram em me apresentar o “vigia eletrônico” das instalações da repetidora da TV Manchete, que realizava a função de transpor o sinal de Brasília para Anápolis e Goiânia, e vice-versa.
Naquele tempo, não havia cabos óticos, nem rede de computadores disponíveis e a utilização de canais de satélite tinham um custo muito elevado.
Apresentaram-me, então, o “Paraíba”, um técnico de eletrônica solitário que, concomitantemente, dava manutenção aos equipamentos da TV, bem como vigiava todo o local evitando qualquer infortúnio.
Figura simpática e agradável, rapidamente nos mostrou sua singela casa e nos recebeu com carinho.
Retornei algumas vezes ao local, sempre acompanhado de radioamadores para realizar o mesmo intento.
Na visita que realizei por volta de 2002, fui recebido pelo “Paraíba” e sua família. Nessa ocasião, ele já havia se instalado lá — de forma definitiva — com família e filhos.
Construiu, ao fundo da casa, outra morada anexa com diversos cômodos, toda em pedra, cimento e areia.
Nessa ocasião, tive o prazer de almoçar na casa de pedra com o citado cidadão a beira de um fogão a lenha também construído em rochas da região. Ergueu ainda o Paraíba um muro baixo atrás da casa delimitando uma área, criando galinhas e pequenas culturas.
Tudo durou pouco tempo, pois, tanto o avanço da tecnologia, que tornou obsoleto todos os equipamentos da TV Manchete ali instalados, a transmissão de dados em fibra e ainda o próprio fim da emissora, deixaram, provavelmente, o sentinela da Serra sem função, culminando, dessa forma, no abandono das instalações.
Assim, no último retorno àquele local, acompanhado do amigo Cleber, estava tudo diferente. Decidimos realizar um conjunto de fotos das ruínas deixadas pela emissora e pelo seu ex-funcionário.
Começamos com a fachada da casa principal da qual restam apenas as paredes.
Prosseguimos realizando fotos também da casa de pedra construída por “Paraíba”, que também está ruindo quase que por completo, especialmente a chaminé daquele do fogão a lenha, que tive a oportunidade de conhecer em 2002.
Por fim, registrei a casa de equipamento de onde subia, a sua direita, uma torre de cem metros, escalada por mim em 1992.