(por: José Rodolpho Assenço)
“Pyreneus de Goyaz, tu és pedra, e sobre esta pedra ficará a imagem de quem te fez” – este e o texto esculpido no pico dos Pireneus de Goiás, a 1385 metros do nível do mar – principal cordilheira do estado, sinalizador para os antigos mineradores e bandeirantes.
Desde as bandeiras chefiadas por Bartolomeu Bueno (pai do Anhanguera), ainda no século XVII, a região dos Pireneus já era conhecida e descrita por eles, por se tratar de um pico acima de todos os demais da região e que servia como sinalizador para que as bandeiras decidissem qual direção tomar.
Anhanguera, em sua conquista do interior, em 1722, alcançou o local onde teria mandado rezar uma missa pela graça de ter alcançado o referido local. Buscava Anhanguera a região às margens do Rio Vermelho, próximo a Goiás Velho, de onde, com seu pai, teria localizado grande quantidade de ouro aluvião. Para tal feito, o visual do cume dos Pireneus teve importância decisiva.
Nessa empreitada, a bandeira de Anhanguera se perdeu, tendo que retornar ao alcance visual dos Pireneus por diversas vezes, o que retardou, por um ano, sua chegada ao Rio Vermelho, resultando em diversas baixas e abandonos.
Há diversos relatos dos Pireneus por bandeirantes, mineradores e viajantes – acreditavam erroneamente ser os Pireneus o local mais alto de Goiás e quiçá do Brasil.
Auguste de Saint-Hilaire (naturalista francês), em seu relato “Viagem a Goiás”, em 1819, descreve o local da seguinte forma:
“A excepção de alguns cumes cobertos de rochedos angulosos, que parecem quebrados artificialmente, e se accumulam sem ordem, toda a parte dos Montes Pyrineus que percorri apresenta um terreno homogêneo. Vêem-se, ás vezes, pastos arenosos onde apenas vicejam hervas, outras vezes, moitas de arvoredo e nos valles, que são sempre pantanosos, o elegante bority”
“Estando á base dos picos mais elevados; há dois principaes; os que já vira a distancia. Quase da mesma altitude exhibem ambos um cone de aresta bastante obliqua, e, são completamente cobertos de pedras e rochas angulosas, e entre as quaes cresce grande número de arbustos e árvores enfezadas. Gastei cerca de um quarto de hora para chegar ao cume de um delles; de lá uma extensão immensa de terreno deserto e inculto se me offereceu á vista. Rochedos de pouca largura terminam este pico, e no meio delles crescem exemplares de canella de ema meio desecadas e cobertas de lichens.”
Estive, algumas vezes nesse local inusitado, acompanhando, à época, um grupo de radioamadores de Brasília e de Goiânia, no intuito de instalar equipamentos repetidores de VHF (Very High Frequency) e, em especial, para mim, teria um sabor muito extraordinário: após tantos anos, retornar ao local e subir o morro da capelinha, como é conhecido, hoje o principal e mais alto cume.
Saí em companhia do fotógrafo Cleber Medeiros e de sua namorada, Jaque, em direção aos Pireneus. Passamos rapidamente pela pequena cidade de Cocalzinho de Goiás, logo a seus pés, e iniciamos a subida por uma estrada de terra mal conservada, que leva em direção ao cume e segue para Pirenópolis.
Era um dia especial, pois se tratava do último final de semana de junho, data essa que, anualmente, acontece a festa do morro, ou festa dos Pireneus, em louvor a Santíssima Trindade, quando diversos grupos acampam na base dos cumes e pernoitam por vários dias. Escolhemos essa data propositalmente, tanto para conhecer a festa ou parte dela, como para aproveitar da maior lua do ano, que acontece nessa data, fenômeno chamado de Lua Azul.
Estacionamos o veículo na base do cume principal, próximo a diversas barracas onde alguns dos acampados cozinhavam e outros cantavam e tocavam violão. Iniciamos a subida e logo percebemos que, em todo o percurso, há diversas pedras já citadas pelos viajantes até o cume onde se situa a capela.
Nesse local, permanecemos por aproximadamente uma hora, tirando fotos e observando a paisagem: ao fundo a cidade de Cocalzinho e, de um lado muito distante, Águas Lindas, próximo a Brasília; e do outro, as cidades de Alexânia, Abadiânia e próximo ao horizonte os prédios de Anápolis.
Vale ressaltar que o Pico dos Pireneus é um local único por permitir alcance visual de duas capitais, a do país e a de Goiás.
Prosseguimos tirando fotos, dando ênfase ao Morro do Cabeludo, que também compõe os Pireneus e onde, segundo uma lenda, era o local em que morava um eremita a muitos anos atrás, motivo do nome.
Particularmente, prossegui minhas imagens retratando o segundo cume, onde, a seu pé, estavam instalados diversos acampamentos dos festeiros do morro e também daquilo que seria as ruínas dos equipamentos repetidores.
Não deixei ainda de fotografar a capela com a Santíssima Trindade, retratada em seu interior e sinalizando o acontecimento do dia.
Concluído todos os temas, decidimos retornar à base e ao veículo, restando a mim a sensação de resgatar aventuras que realizei na juventude.