Padre Santiago e as Igrejas de Paracatu

(por: José Rodolpho Assenço)

                        A História da “Villa de Paracatu do Príncipe” nos revela algumas etapas fantásticas e intrigantes. A do Padre Antônio Mendes Santiago, por exemplo, é uma delas.

                        Conhecedor de sua história, busquei fotografar as Igrejas de Paracatu, em especial aquelas que teriam sido por ele construídas.

igreja_de_santo_antonio

                        Padre Mendes Santiago participou e comandou tropas no levante denominado “Sedição”, acontecido no noroeste mineiro, notadamente no Vale do São Francisco, onde ele era vigário geral no ano de 1736. Padre Santiago, à frente de duzentos homens da tropa da latifundiária Dona Maria da Cruz, tomou a vila de São Romão.

                        Esse levante foi a luta entre os potentados do sertão. De um lado, os grandes proprietários de terra apoiados pelo Padre; e, de outro, aqueles que defendiam as ordens da capital da província. Essa luta foi considerada como marco final do domínio do sertão pelos proprietários, o que mudou o foco econômico, valorizando as regiões mineradoras.

                        Padre Santiago e os proprietários perderam a batalha. Tiveram suas terras e fortunas confiscadas. O religioso, porém, fugiu, tempos depois, e buscou refúgio na casa do bispo de Olinda.

                        Com a descoberta do ouro no Arraial de Paracatu, volta a cena a figura temida do Padre Mendes Santiago, tendo ele construído, em 1744, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e um belo largo de mesmo nome; já em 1746, edificou a Igreja de Santo Antonio de Manga (hoje Matriz de Santo Antonio), cujo nome veio da ordem do bispado em se construir uma Igreja em Manga para Santo Antonio.

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                        O Padre teria mudado deliberadamente a intenção de se construir essa Igreja em Manga, e a trouxe para o Arraial. Logo em 1755, Santiago foi nomeado oficialmente vigário geral de Paracatu.

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                        Esse padre era considerado terrível e temido por todos. Dizia-se, à época, que era chefe do tribunal da Inquisição. Tornou-se também o chefe absoluto de todo o sertão. Cobrava taxas sobre o ouro auferido pelos garimpeiros; julgava os infiéis — ou quem não lhe pagasse os tributos — de forma severa com tortura e morte, além de confiscar-lhes os bens. 

                        Criou uma Irmandade que controlava as pessoas mais abastadas e que impunha as penas àqueles que cometessem crimes de não pagar os impostos por ele estipulados.

                     “A Irmandade das Almas, controlada pelo padre Santiago, vigiava as pessoas ricas e ajudavam o pobre a morrer. Os Carrascos dessa Irmandade eram o Dionísio e a sinhá Andreza.  A sinhá Andreza “tinha uma cara de corujão”, usava óculos quadrados, era obesa. Ela ajoelhava sobre o estomago de suas vitimas e apertava com força a garganta dos pobres enfermos, bradando: “Diga, Jesus, Irmão! Diga, Jesus, Irmão! Se não pode dizer de boca, diga de coração!.”” (SOUZA, Marcos Spagnuolo. Paracatu: sua história. Paracatu: [s.n], 1999. p.121.)  

                        Após muitos anos de horror, em 1761, a população de Paracatu representou ao bispo contra o Padre que, em 1767, por fim, vendeu e pegou toda a fortuna que conseguiu acumular em Paracatu, e sumiu.

                        Voltando às Igrejas que visitei, especialmente a de Santo Antonio, fui recebido por uma funcionária do turismo da cidade, que me apresentou o interior da Igreja e toda a nave: com piso de madeira e diversos túmulos abaixo;  altar principal, com muitos  santos; altares secundários e laterais.   

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                        Pude observar que havia, nas duas laterais da Igreja, balaustres em formato de sacada que, segundo me relatou a jovem, o padre usava para falar ou gritar mais perto de seus fiéis. Nesse momento, questionei se ela tinha conhecimento da história do Padre Mendes Santiago, e ela me confirmou que sim. Sabia que ele tinha sido o construtor da referida Matriz e que também havia cometido algumas atrocidades na região.

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                        Feliz com o conjunto de fotos realizadas e de ter materializado toda a história que pesquisei, dei-me por satisfeito.

O Largo do Santana

(por: José Rodolpho Assenço)

                        O Largo do Santana é marco inicial da colonização do Noroeste Mineiro, especialmente a região do Vale do Paracatu. E foi nesse largo que se criou o primeiro arraial da região.

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                        Mergulhando na história do sertão mineiro, iremos nos deparar com esse momento que, até hoje, não é muito bem conhecido. Alguns livros registram a criação do Arraial de São Luiz e de Sant’Ana das Minas a bandeirantes e mineradores paulistas e portugueses, porém, na verdade, o início da colonização se deu pelos pecuaristas oriundos do sertão baiano, que ali encontraram um vale fértil e adequado para a criação de gado.

                        É cediço que a colonização de Paracatu, em Minas Gerais, por exemplo, ao contrário do que muitos pensam, não está ligada às minas de ouro e garimpos, e sim a uma vila de pecuaristas e seus agregados e escravos que ali se instalaram. Isso até parece estranho, pois a cidade encontra-se exatamente sobre diversas minas, entre as quais, a maior hoje em funcionamento no País. 

                    Grande parte dos pesquisadores afirma ter acontecido tal colonização entre 1690 e 1710.

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                        Sabedor de que o Largo do Santana fora o centro do Arraial de São Luiz e de Santana, saí em um domingo pela manhã para realizar algumas fotos do local. E para iniciar tais registros, segui imediatamente em direção à Igreja de Nossa Senhora de Sant´anna, que fica bem em frente do largo.

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                        A Igreja de Santana nos dias de hoje é uma réplica da Igreja original, em que, por volta de 1935, se encontrava em ruínas, tendo sido chamado o Clero — e a comunidade — para os devidos reparos. Tal ação não teria acontecido e, para garantir a segurança da população, ela foi demolida na data citada, o que causou grande revolta à parte da população de Paracatu.

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                        Por ser a primeira Igreja e por representar o início da Villa de Paracatu do Príncipe, ela foi construída novamente, uma réplica no mesmo local da original, para que pudesse ser apreciada pela população na praça original com a mesma composição.

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                        Depois de registrar a Igreja e o Largo, segui em direção ao primeiro sobrado de alvenaria erguido na cidade, o qual, segundo algumas pessoas, teria servido de residência temporária de “Dona Beija”. Essa edificação foi construída bem no início do largo, em frente a uma pequena fonte de água.

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                        Algumas imagens do sobrado e do largo do final do século XIX e início do XX podem ser encontradas facilmente em buscas sobre a história do local.