(por: Jose Rodolpho Assenço)
Desemboque, distrito do município de Sacramento em Minas Gerais, foi a mais fantástica incursão ao sertão, realizada nesse ano, em busca da história do Brasil colônia e de cidades perdidas.
Nesta viagem contava com a presença de Nayara, meu filho João Guilherme, do fotografo Cleber, sua namorada e seu filho Danilo e de Humberto Neiva com sua esposa e filha.
Partimos da cidade de Sacramento por volta das treze horas, pretendíamos chegar a Desemboque mais ao final da tarde para aproveitar a melhor iluminação, seguimos pela rodovia que transpassa a Serra da Canastra até atingir São Roque de Minas.
Rodamos por essa rodovia de terra, que é bem movimentada durante uns quarenta minutos até um grande muro indicando a entrada para Desemboque. Nele consta o seguinte texto: “Homens de extrema bravura, desterrados do seu próprio mundo, fundaram no sertão da farinha podre em 1743 a capela de Nossa Senhora do Desterro, dando inicio ao povoamento de Desemboque, marco inicial da colonização do Brasil central”.
Cheguei até Desemboque através de meus estudos sobre a viagem do General Cunha Mattos em 1822, o qual descreve a região e que consta da Carta Corografica da Província de Goyaz e julgados de Araxa e Desemboque. Conhecendo da história e das passagens dos viajantes, fiquei fascinado em conhecer o referido lugar.
Existem diversas controvérsias sobre a origem de Desemboque, sobre a data e seu nome, porem consta que na data de 1743, criou-se um pequeno povoamento as margens do Rio das Velhas, hoje Rio Araguari, com o nome de Arraial do Rio das Velhas. Sua origem esta intimamente ligada às estradas reais, seria o desemboque das estradas que vinham de Minas e a estrada do correio de Goiás que seguia para os Arraiais de Bom-Fim, de Santana e por fim Vila Boa. E nessa condição de entroncamento de estradas veio o desenvolvimento do arraial e da região.
A Igreja de Nossa Senhora do Desterro foi construída em 1762 conforme consta em seu altar-mor e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos por volta de 1820.
Voltando a nossa estrada, assim que atingimos a placa e partimos da rodovia principal que segue para a Canastra buscamos uma estrada vicinal, que passou por diversas propriedades, com diversos entroncamentos e bifurcações o que nos fez por diversas vezes parar em algumas fazendas para ter certeza que estávamos no caminho certo. Seguimos por essa estrada truncada por aproximadamente uns trinta quilômetros.
Por fim chegamos a um outeiro no ultimo entroncamento que da acesso a Desemboque e iniciamos a descida já avistando alguns telhados logo abaixo.
Na entrada de Desemboque existe um pórtico e a partir dali a estrada cujo calçamento passa a ser de pedra, divide-se de forma triangular formando um largo o qual estão todas as edificações do povoado.
Assim que chegamos ao inicio da povoação estacionamos ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, onde descemos para inúmeras fotos. Nesse momento Nayara decidiu continuar descendo a pé pela vila conversando com os habitantes.
A simples Igreja estava aberta, tiramos fotos do largo da Igreja em diversos ângulos, e da velha cruz a sua frente, que encontra-se me péssimo estado de conservação.
Encerrada a Igreja descemos de carro para o largo principal, pelo caminho avistamos Nayara em uma casa pouco abaixo encostada ao muro, conversando e tomando café com um senhor.
Seguimos até o largo e praça onde logo estacionamos próximo a Igreja de Nossa Senhora do Desterro. Nesse momento assim que desci com todos os equipamentos encontrei com um jovem casal de fotógrafos que equipados com uma grande objetiva se preparavam para fotografar.
Imediatamente perguntei a eles se estavam fotografando a Igreja e o povoamento histórico, isto devido ao meu relevante interesse pelo assunto e logo fui surpreendido com a resposta, confesso que levei um certo tempo até adivinhar do que se tratava “Não estamos tentando fotografar o Maracanã do Norte” . Assim que compreendi por aproximação que deveria ser alguma ave ou uma maritaca, e cheguei a conclusão de que cada doido com a sua doidera.
Após colocar os equipamentos na praça, eu e Humberto descemos ao único bar da localidade, o da dona Adriana, onde compramos água e refrigerante, Cleber por sua vez, montava um ringue de arco e flexa para entreter a garotada.
Estávamos por volta das 15 horas e aguardávamos o melhor horário para fotografar a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, o cemitério a sua volta o belo campanário e alguns poucos casarios próximos a ela, o que deveria acontecer próximo as 17 horas.
Enquanto Cleber atirava flexas com os meninos Humberto conversava com um senhor local, resolvi tirar algumas fotos da Igreja que estava fechada nesse momento. Circulando a Igreja percebi que uma jovem saia da porta lateral e rapidamente a interceptei.
Tratava-se da jovem Joelma, fazendeira e filha de fazendeiro da região, e que também era a guardiã das duas Igrejas, possuidora das chaves, e do zelo por esse importante patrimônio. Imediatamente entramos na Igreja do Desterro onde fiz diversas fotos ao tempo em que conversava com Joelma e no final me apressei em chamar o Cleber para aproveitar a presença da jovem com as chaves.
Finalizado o interior da Igreja do Desterro uma nova surpresa, sobre a cruz no telhado surge nada mais nem nada menos do que ele, o Maracanã do Norte. Após alguns risos e muitas fotos falamos que por um pequeno lapso temporal os jovens fotógrafos não o encontraram em local tão inusitado.
Com o final de tarde passamos a fotografar a Igreja e demais casas com mais atenção.
Destaca-se na Igreja do Desterro o muro e o cemitério em toda a sua volta, bem como o pequeno campanário encostado ao muro.
Os túmulos são diversos em todas as direções a volta da Igreja, mas detaca-se alguns poucos túmulos em lapides bem a frente da entrada. Esses túmulos eram colocados ali para que toda a população, pudessem pisar sobre seus cadáveres, seriam sim pessoas que ao olhar da Igreja cometeram inúmeros crimes ou não possuíam direito de ser enterrado dignamente.
Finalizada nossa visita subimos até a casa do Senhor Lourenço Fugêncio aquele senhorzinho com o qual Nayara tomava café logo na chegada do povoamento, onde fomos recebidos com toda atenção e onde orgulhosamente seu Lourenço apresentou seu belo carro de boi com o qual ele participa do desfile que acontece todo ano na localidade e do qual já havia ganhado premio.
Senhor Lourenço que esta aposentado, contou algumas outras historias do local e peculiaridades.
Saimos já a noite de Desemboque e tivemos inúmeras dificuldades de conseguir acertar todos os caminhos e bifurcações da estrada vicinal até atingir a rodovia de terra que segue para Sacramento.