(por: José Rodolpho Assenço)
Monte do Carmo, antigo Arraial de Nossa Senhora do Carmo, possui uma história rica em lutas e disputas entre mineradores, bandeirante e os Índios Xerentes. Uma das minas de maior produção de ouro aluvião da então capitânia de Goiás e que mereceu atenção especial do Rei de Portugal.
Tive a oportunidade de visitar o Monte do Carmo neste ano, acompanhado de meu primo Ruy, em nossa estada ao estado do Tocantins, quando da realização de outros eventos.
Na verdade, já havia estado de passagem por Monte do Carmo acompanhado do fotografo Cleber alguns anos atrás, no intuito de seguir para o Jalapão, momento esse em que a prioridade não era de conhecer o pequeno município.
Passamos, naquele momento, por Monte do Carmo e até avistamos a Matriz ao longe, mas, como havia dito, nossa prioridade era atingir Ponte Alta do Tocantins e nos hospedar para seguir no próximo dia ao deserto.
O Arraial de Nossa Senhora do Carmo foi fundado em 1741 pelo minerador português Manoel de Souza Ferreira e acompanhado de diversos outros mineradores portugueses e escravos, tão logo encontraram grande quantidade de ouro no córrego Matança.
Observa-se que os mineradores portugueses fundaram grande parte dos arraiais ao norte de Goiás, talvez em respeito ao tratado de Tordesilhas, pois ainda não havia uma decisão definitiva das terras a oeste desse ocupadas pelos bandeirantes paulistas.
O arraial se situava em um suave outeiro entre este córrego e o Sucuri, contornando praticamente toda a cidade. Por sua vez, o córrego Matança tinha esse nome devido à grande quantidade de garimpeiros mortos pelos índios no local, hoje se chama Água Suja, talvez pela grande movimentação da mineração acontecida ao longo dos anos.
Toda a região próxima ao rio Tocantins era habitada pelos índios Xerentes, que não aceitavam a presença de invasores em sua região. Esses índios bravios já haviam atacado em outros arraiais do Tocantins uma luta por sua vez que se estendeu por um século.
O Carmo erra insistentemente atacada pelos Xerentes e em uma ocasião levou a morde de grande parte de sua pequena população, diante dos acontecimentos, a Coroa Portuguesa enviou para o arraial o Padre José Faustino da Gama com aproximadamente mil escravos.
Duas Igrejas foram construídas inicialmente no sopé da serra, estando essas em ruínas ou completamente sem vestígios, porém, no ano de 1801, foi construída a Matriz de Nossa Senhora do Carmo em uma praça central no topo do pequeno outeiro que persiste até os dias de hoje.
Em nossa visita a Monte do Carmo, assim que chegamos a cidade, buscamos imediatamente a praça da Igreja Matriz, no intuito de registrar esse importante arraial do ciclo do ouro que compunha com Natividade, Arraias e Pontal as principais minas da Comarca do Norte de Goiás.
Logo que chegamos à praça, estacionamos o carro de forma a não atrapalhar nossas fotos da citada Matriz, que conta com uma cruz muito antiga em madeira pouco mais a sua frente sendo uma construção, embora grande, muito simples, sem torre com os sinos sustentados em estacas do seu lado direito.
Achei por bem fotografar os sinos antigos em bronze e circulei por toda a velha matriz.
Em seguida, adentramos na Igreja com uma nave grande e simples, um altar principal, produzido com madeira envernizada (recente),
e ao lado direito de quem entra, a ela estava sim o antigo altar, e algumas imagens nos pareceu estar a espera de restauração ou pintura.
Seguimos para a sala de sacristia, que hoje está destinada a orações, onde um grande tronco de árvore sustenta imagens nesse local, estava junta aos bancos uma senhora que me aparentou ter bastante idade rezando silenciosamente.
No corredor na outra lateral da Igreja, observamos duas escadas — uma que dá acesso a um mezanino em madeira no fundo da Igreja, destinado à pequena orquestra ou banda que toca as músicas que acompanham as missas.
A escada dianteira leva a um balaustre no meio da Igreja que era muito comum destinada a um violino, ou ainda quando a palavra do padre necessitava de ser feita em alto tom próximo aos fieis.
Concluídas as Igrejas, seguimos buscando fotografar algumas poucas casas existentes, e que hoje já estão parcialmente reconfiguradas e que nos remetem aos séculos XVIII e XIX.
No outro lado da praça após o local onde estacionamos o carro, existe um prosseguimento desta com um grande colégio em seu lado oposto á entrada com pequeno e belo coreto, contando ainda com um ajardinamento e bancos bem interessante.
Nesse momento, segui a curiosidade e a sensibilidade do Ruy em fotografá-lo e em especial suas janelas com interessantes detalhes e tudo muito bem conservado.
Após todos os conjuntos, caminhamos rapidamente observando a rua principal da cidade ou rua comercial que estava tomada de manifestações e bandeiras relativas às eleições municipais que se antecediam.
Contentes com a aventura no antigo arraial, finalizamos nossa estada retornando ao veículo e seguindo de volta à capital.