(por: José Rodolpho Assenço)
A Matriz de Nossa Senhora do Rosário em Pirenópolis representa o maior prédio construído e concluído do período colonial em Goiás – ciclo do ouro — e é o maior símbolo da história da colonização do sertão e a mais tradicional Igreja Católica do estado.
Construída no estilo colonial do barroco arcaico e singelo, utilizando-se de diversas técnicas provavelmente devido a sua dimensão, a Igreja Matriz tem suas bases em pedras e paredes de taipas de pilão, paredes superiores em adobe, reforçando-as com uma estrutura de aroeira, além de vigas e pilastras desse mesmo tipo.
Sua história remonta ao início da colonização de Goiás e à fundação do Arraial de Meia Ponte em 1727 e sua construção teria iniciado logo no ano seguinte, e concluída por volta de 1732 a 1734.
Diversas modificações e ampliações aconteceram ao longo desses séculos, como por exemplo, a casa paroquial e a camarinha foram concluídas em 1763. Inicialmente, foi edificada apenas uma torre; a segunda teve suas obras iniciadas logo no ano seguinte à construção da camarinha.
Por volta de 1767 a 1770, foram feitas as pinturas no altar-mor, tendo também esse sido recuado e ampliado, aumentando, assim, o aspecto interno na nave. Anjos executados no entalhe de madeira e crucifixo também foram realizados nesse curto período.
Muitos reparos foram feitos na Igreja, em especial em 1838, com a reconstrução do telhado e o rebaixamento das duas torres que, na versão inicial, tinham uma altura maior. Em 1877, a instalação do relógio de fabricação alemã na torre sineira.
A Matriz de Pirenópolis foi tombada como Patrimônio Histórico pelo IPHAN em 1941, tendo havido, a partir dessa data, diversos reparos nesse belo prédio, sendo que, entre 1996 e 1999, foi concretizada uma grande restauração.
No dia 5 de setembro de 2002, esse símbolo da cidade e do barroco goiano sofreu um acidente catastrófico: um grande incêndio, do qual ainda não se conhece o motivo definitivo, varreu, em chamas, todos os requintes interiores e obras desse acervo, restando dela somente sua fachada e paredes externas.
Uma imensa tristeza abateu sobre a cidade e os pirenopolinos viram sua bela praça e Igreja, marco maior dessa cidade, destruídas e transformadas em cinzas e ruínas.
A partir desse acontecimento, diversas reuniões entre a comunidade, governo local e IPHAN foram realizadas. Muitos não acreditavam na possível reconstrução do monumento. Achavam que a destruição teria sido tamanha que nada mais havia a ser feito.
Mas, felizmente, decidiram pela reconstrução total da Igreja e prontamente o IPHAN atendeu ao pedido feito pela comunidade e, na sequência, uma força tarefa foi formada, seguindo-se pela construção de uma cobertura montada para evitar que a chuva atingisse diretamente as paredes de adobe e viessem a destruir o que restou.
Sua reconstrução — e restruturação — foi feita em um projeto de canteiro aberto com a visita e a participação de turistas e da sociedade. Foi construído um canteiro digital para que os novos artesãos e artífices pudessem trabalhar sobre as imagens da Igreja original. Assim, uma reconstrução se fez nascer e surgiram novos construtores conhecedores de técnicas seculares, como o adobe de pilão e a taipa. A presença de alguns carpineiros (hábeis em madeira e entalhes) fez nascer, na cidade, uma legião de novos artistas da madeira entre aqueles jovens que ajudaram na reconstrução desse importante prédio.
A partir de 1989, confesso ter estado em Pirenópolis por mais de uma centena de vezes, sempre no intuito de fugir da cidade grande buscando para tanto um banho de rio ou uma bela cachoeira sem nunca ter tido a oportunidade de realizar um conjunto de fotos desse belo monumento.
Este ano, em uma de minhas idas, achei por bem fazer um singelo relato desse magnífico prédio e suas cercanias. Estava, dessa feita, acompanhando um grupo de colegas do Rotary Club, no intuito de realizar, na cidade, um evento e aproveitei de um tempo livre acompanhado de meu filho para essa visita.
Iniciei pela fachada principal e a praça, na sequência, escolhi visitar um pequeno museu que relata sobre o incêndio localizado na camarinha onde, nesse espaço, existe um mural com fotos do acontecido, painéis com a história da Igreja e de sua reconstrução, além do belo sino em bronze, parcialmente derretido.
Segui para a nave principal, onde algumas paredes permanecem abertas, para que possamos ver suas paredes originais em taipa e adobe.
Segui em direção ao altar-mor para fotografá-lo. Observei as novas obras realizadas de entalhes em madeira.
Feliz com a visita, retornei a meu grupo de trabalho para realizar as atividades para quais viemos a essa bela cidade.