(por: José Rodolpho Assenço)
As Cavalhadas de Corumbá de Goiás fazem parte das comemorações festivas durante a semana de Nossa Senhora da Penha, padroeira dessa cidade e nome de sua Matriz.
Em um sábado, eu, minha filha, os companheiros Cleber Medeiros e Jaque Araújo decidimos aceitar o simpático convite do fotografo Henrique Ferreira para fotografar e cobrir o evento em Corumbá de Goiás, município distante aproximadamente cento e vinte quilômetros de Brasília.
Saímos ainda pela manhã e, por volta do meio-dia, passávamos pelo povoamento de Edilândia de Goiás, onde vimos um restaurante de comida caseira dentro de uma fazenda. Como a fome já nos atingia havia algum, tempo, decidimos entrar e conhecer o estabelecimento.
Para nossa alegria, pudemos saborear, no local, uma excelente carne de sol, acompanhada de farofa de couve com torresmo — o que fez grande sucesso —, sem contar com uma carne de porco assada na lata, comum no sertão brasileiro.
As cavalhadas se resumem numa festa embasada na fé cristã, trazida de Portugal para o Brasil por volta de 1600, mas sua origem remonta a o século XV, quando da expulsão dos árabes da península ibérica (Portugal e Espanha)
No século VI, milhares de árabes invadiram a parte sul de Portugal e da Espanha, atravessando, da áfrica, o estreito de Gibraltar e se instalando nessa região. Ainda no mesmo século, o rei Carlos Magno atravessou os Pirineus e enfrentou os invasores, não tendo obtido, porém, sucesso em sua empreita e, assim, os árabes permaneceram por séculos na península ibérica.
Por fim, no século XV, no reinado de Isabel, rainha de Castela e Leão, venceu os árabes, expulsando-os de volta ao norte da África. Passo seguinte, decidiu a citada rainha implantar a fé católica na região, criando, para tanto, uma festividade que pudesse demonstrar a vitória dos católicos sobre os mouros.
Voltando a Corumbá de Goiás, essa representação é formada por 24 cavaleiros, sendo 12 mouros e 12 cristãos; os primeiros de camisa e capa de calça vermelha de cetim capacetes dourados e vermelhos; os cristãos, nas cores: azul com adornos semelhantes. Vale salientar que toda a indumentária utilizada na apresentação é confeccionada por exímios artesãos e costureiros locais.
Cada exército é composto por um rei, um embaixador e dez cavaleiros guerreiros.
Assim que entramos na arena ou “cavalhódromo”, como é chamado por alguns, encontramos o fotógrafo Henrique Ferreira, que habilmente, conversando com os organizadores da festa, conseguiu autorização para que fotografássemos tal evento na pista. Obtivemos, ainda, duas vagas em camarote.
Posicionamo-nos próximo do centro, sempre perto do gradil e de uma abertura com o intuito de nos defendermos. E começamos a assistir às encenações.
Inicialmente, os dois exércitos mouros e cristãos, respectivamente, se encontram e cada um tenta convencer o outro a mudar de religião. Por fim, o rei mouro, após insultar o rei cristão, propõe que o impasse seja decido em luta.
Inicia-se então a batalha e, a cada momento em que os cavaleiros galopavam em nossa direção, tínhamos de recolher os equipamentos, juntando-os o mais próximo da grade para evitar algum acidente: que alguma espora dos cavaleiros, ou até mesmo suas armas, por exemplo, viesse a nos atingir.
E as batalhas prosseguiam com lança, com garrucha de dois tiros e com espadas. Fazíamos sempre uma sequência de fotos na pista e corríamos para a grade, a fim de nos protegermos.
No intervalo de cada batalha, a pista é invadida pela figura dos mascarados, uma atração a parte, com roupas coloridas, luvas, botas com decoração e sinos em seus cavalos;
com máscaras de cabeça de boi, de homem e de monstros.
Os mascarados, bastante debochados, contrariando a rigidez dos cavaleiros, fazem todo o tipo de bagunça, sem nunca mostrar o rosto;
mudam o tom de voz, emitem grunhidos e gritinhos, enfim, ficam importunando a todos com pequenas lanças, pedindo dinheiro, dançando, pulando e, por fim, fazendo uma grande bagunça.
Essas figuras galopam pela arena sem sequência alguma; descem dos cavalos para dançar e, alguns, chegam mesmo a dançar em cima do cavalo.
E assim prosseguimos nossas fotografias das batalhas e dos mascarados por horas até o cair da noite.
Na saída, buscamos a Jaque e Carol na arquibancada, que nos confessaram querer participar do evento no próximo ano como mascarados.