(por: José Rodolpho Assenço)
O Convento de São José em Lages, Santa Catarina, é um monumento à saga vivida pelos Franciscanos no planalto catarinense, uma região inóspita, onde a rusticidade, a falta de religiosidade, indiferença e a falta de tradição, além da pobreza, criaram um desafio descomunal para esses sacerdotes a época.
Em visita ao centro de Lage, passeava pelas Igrejas e ruas, quando deparei com a bela visão do conjunto arquitetônico do Convento de São José e seu colégio. Imediatamente, estacionei o carro e, naquele momento, tinha em mãos uma máquina fotográfica compacta com poucos recursos. Era inverno, uma manhã muito fria e o céu todo coberto por serração dificultava ainda mais bom registro fotográfico.
Porém não desistiria de conhecer tão belo prédio composto de capela e colégio, além de um mausoléu anexo.
Iniciei registrando a bela estátua de São Francisco em primeiro plano, o que me criou uma confusão quanto ao nome do convento.
Segui pela lateral, jardins e entrei na capela onde, com muito pouca luz e muita dificuldade, consegui registrar uma imagem da nave dessa Igreja.
Retornando ao pátio externo, prossegui registrando uma pequena capela onde uma senhora acendia velas, ora ajoelhava, outra ora em pé a rezar.
Por sorte, pois não havia nenhuma sinalização, descobri, após uma entrada, um mausoléu com capela onde está o corpo de Frei Rogério Neuhaus.
Naquele local, registros em forma de quadro fixado na parede lateral me proporcionaram conhecer um pouco da história do citado frei.
Minha curiosidade ficou extremamente aguçada, o que me levou a pesquisar no dia seguinte a história do Sr. Neuhaus.
Seu nome era Henrique Neuhaus, nascido em Borken, Alemanha, em 1863. Em 1881, recebeu o nome de Frei Rogério, desembarcou em 1891 em Salvador, de onde, imediatamente, seguiu rumo a Santa Catarina. Em 1892, foi enviado a Lages, onde, por muitos anos, seria sua área de atuação, ou seja, no planalto catarinense.
Disse Frei Rogério ao chegar a Lages: “A cidadezinha tinha uns mil habitantes e como não houvesse nenhuma boa estrada, poucos tinham contato com o litoral.” Nesse habitat, o Frei tornou-se o “Apóstolo do Planalto Catarinense”.
Frei Rogério Neuhaus passou, por trinta anos, nos estados do Paraná e Santa Catarina. Nesta última, grande parte na região de Lages. Atravessava essas paragens em viagens sobre o lombo de mula por dias e semanas, com riscos enormes, como o de ser atacado por bugres ou por invasores espanhóis. Caiu enfermo, por diversas vezes, em meio ao frio intenso da serra catarinense.
Em um episódio, Frei Rogério sofreu com inúmeros fanáticos nos anos de 1912 a 1916, chefiados por um falso monge José Maria de Santo Agostinho, que, na verdade, era Miguel Lucena de Boaventura, um desertor do exército, procurado pela polícia do Paraná. A atuação de Frei Rogério foi inútil, capítulo da história que resultou na Guerra do Contestado.
Seguiu o Frei sua atuação também no Planalto paranaense quando, em 1922, descobriu que estava perdendo a visão. Diante da gravidade, procurou recursos em São Paulo e, por fim, no Rio de Janeiro para onde se mudou definitivamente.
Mesmo sem visão, prosseguiu seu trabalho no Rio, com resultados surpreendentes, prestando socorro aos carentes, visitando doentes, hospitais, asilos e casas de caridade.
Em 1934, ainda trabalhando, Frei Rogério foi internado na Casa de Saúde São José com câncer generalizado, vindo a falecer no mesmo ano.
Após visitar o local e, na sequência, conhecer a trajetória do Frei Rogério Neuhaus, uma parte da historia dos Franciscanos no Brasil, e em especial no planalto catarinense, reforçou minha conclusão de que devemos tomar cuidados com todos os detalhes daquilo que conhecemos.
Poderia muito bem ter fotografado e conhecido aquela bela edificação sem ter me atido a detalhes históricos que ampliam o nosso conhecimento.