(por: José Rodolpho Assenço)
Três Marias, cidade mineira às margens do Rio São Francisco e banhada pela imensa represa de mesmo nome, esconde histórias intrigantes e possui uma beleza interiorana única. Ressalte-se que sua represa, de grande proporção, banha inúmeros municípios da região central de Minas Gerais.
Diz uma lenda que, nos caminhos que cruzavam os sertões, nas proximidades da localidade de Barreiro Grande e às margens de uma cachoeira do rio, havia uma família que teria montado uma hospedaria para o descanso das caravanas e dos tropeiros. Após a morte dos pais, as três filhas, todas chamadas Marias, continuaram com a hospedaria naquele local. Devido a grande procura — todos tinham, obrigatoriamente, que parar, se hospedar ou se alimentar no referido lugar —, tal pousada ficou sendo chamado de “Hospedaria das Três Marias.
As jovens gostavam muito de nadar e ficavam horas e horas — ou dentro do rio ou tomando sol em uma das pedras próximas à pequena queda d’agua, onde elas relaxavam sempre ao final da tarde. Porém, em determinado dia, uma forte enchente que rompeu das cabeceiras dos rios, desceu violentamente carregando árvores, plantações, barcos e tudo que estava à a sua margem. As jovens até que tentaram se salvar, mas sem êxito, foram levadas pela correnteza, em redemoinho, para o fundo do rio.
Sabe-se, porém, que o pequeno povoamento de Barreiro Grande cresceu a partir de 1957 quando o então presidente Juscelino Kubitschek iniciou os trabalhos de construção da imensa represa e de sua usina hidroelétrica.
O objetivo era melhorar a navegabilidade do rio e a utilização do potencial hidrelétrico em um projeto, para a época, ambicioso, pois seria uma das maiores barragens do mundo, e sua operação aconteceu em janeiro de 1961.
Hoje, infelizmente, em segundo plano do cenário energético brasileiro, tanto pelo baixo volume de energia em proporção à imensa área inundada, como pelo fato de a construção não ter observado aspectos de desmatamento da área inundada, o que resultou na produção de gases CO2 em grande nível, semelhante ao de uma usina termoelétrica.
Em visita a essa região com meu amigo Humberto Neiva e meus dois filhos, decidimos conhecer o rio, a Usina e a Barragem de Três Marias.
Iniciamos nosso passeio pelo município vizinho de São Gonçalo do Abaeté — que possui um distrito, um arraial de pescadores e de pousadas bem à margem da rodovia — banhado pelo rio São Francisco, distante somente uns quatro quilômetros da cidade de Três Marias. Paramos no local, em um restaurante do qual já havia estado com esse amigo seis anos passados.
Procuramos alguns barqueiros e canoeiros da localidade e não demoramos a acertar um passeio até o pé da barragem e da Usina.
Passamos, inicialmente, pela ponte sobre o Rio São Francisco, ponte essa que, por inúmeras vezes, tanto de dia como também na madrugada, atravessei anos e anos sempre seguindo em direção ao Rio de Janeiro ou Belo Horizonte. E ficamos a observá-la até o momento em que a perdemos de vista em uma curva do rio.
Logo em seguida, percebemos que nos aproximávamos da represa, pois já era possível ver a imensa barreira de terra à frente.
Em seguida e após a próxima curva do rio, descortinou a usina hidroelétrica de Três Marias para onde nos dirigíamos, inicialmente, ao grande canal vertedouro, usado especialmente quando os níveis de água ultrapassam a capacidade de eliminação de suas turbinas produtoras de energia.
Ao chegarmos à usina, logo observamos uma sede em pavimento térreo com diversos escritórios e, a seu lado, a usina propriamente dita.
Nosso barqueiro, José, aproximou a embarcação do paredão de concreto, a distancia tão pequena que poderíamos tocá-lo. Mas evitei tal façanha e permaneci cuidando de meus filhos, pois as águas que passavam pela turbina subiam formando redemoinhos e, por alguns momentos, pareciam querer jogar a pequena embarcação contra o paredão.
Naquela ocasião, fotografei inúmeras andorinhas que aproveitavam desse recuo no paredão de concreto para fazer seus ninhos ou simplesmente descansar.
Logo o barqueiro afastou um pouco para sair do turbilhonamento, o que me causou mais tranquilidade.
Ele desligou o motor, e pudemos descer o rio por aproximadamente um quilômetro na correnteza, vendo toda a usina e a represa se distanciar.