(por: José Rodolpho Assenço)
Registros e segredos de Meia Ponte, hoje Pirenópolis, nos levam a compreender os motivos de seu sucesso e da conservação de seu patrimônio material, hoje de relevante importância para a história do período colonial e a do Brasil Império em Goiás.
Voltando às primeiras bandeiras de Bartolomeu Bueno e à criação de Vila Boa (Goiás) e de arraiais circunvizinhos(1723), no ano de 1727, ou seja, há apenas quatro anos após a descoberta de ouro pelo referido Bandeirante, Amaro Leite, amigo e colega de bandeira do Anhanguera, relatou a existência de ouro às margens do Rio das Almas, bem como nos córregos adjacentes. Com essa informação, o minerador português Manoel Rodrigues Tomaz seguiu em busca dessas localidades, alcançando tal região em 1729, onde, em um local de um vale muito fértil e aprazível, às margens do referido rio, fundou o Arraial de Nossa Senhora do Rosário da Meia Ponte.
O nome Meia Ponte vem da existência de algumas grandes pedras no local do rio que pareciam querer atravessá-lo, assemelhando-se a uma ponte construída pela metade.
Nesse mesmo ano, iniciou-se a construção de uma grande Igreja, a atual Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário, em um outeiro de forma a acompanhar toda a cidade a seus pés.
Outras Igrejas também foram construídas, acompanhando o crescimento do arraial, como a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Igreja essa que veio a ruir, tendo sido construída, em seu local, uma bela praça, hoje praça do Coreto. A Igreja de Nossa Senhora do Carmo, bem próxima ao Rio e à Ponte,
e à Igreja do Bonfim, na outra extremidade do arraial.
O ouro de aluvião do rio e de seus riachos afluentes logo começaram a exaurir. Por volta de 1740, já não atraia mais tantos garimpeiros e mineradores, porém o Arraial, por estar em local muito fértil e com água abundante, ao contrário dos demais arraiais de Goiás no período colonial, teve início uma produção agrícola que, em poucos anos, veio a abastecer os demais auríferos da região. Na decadência do garimpo, vale citar que diversos arraiais foram extintos e abandonados, assim que o precioso metal desapareceu.
Nesse contexto de produtor agrícola e por estar em entroncamento com a estrada real, que seguia para Vila Boa, e a estrada Geral dos Sertões, que segue no sentido da Bahia, Meia Ponte conseguiu, diferentemente dos demais arraiais, manter uma sociedade mais unida pela diversidade de produtos e gêneros, o que, por muitos anos, veio a produzir efeitos conservadores, tanto do lado social, como no da conservação de casas e monumentos. É verdade que de um total de quarenta comunidades que nasceram ao redor do ouro, somente a capital Vila Boa, Natividade e Meia Ponte sobreviveram ou permaneceram de alguma forma intacta à decadência da produção do metal.
A sobrevivência dessa comunidade e seu isolamento provocaram diversas manifestações culturais e artísticas que resistem até os dias de hoje.
Novos ciclos de crescimento e riqueza vieram logicamente com a construção de Brasília. Lembro-me dos relatos do botânico responsável pela implantação das piscinas do parque nacional de Brasília, época em que foram utilizadas, vindas daquela região, pedras argilosas para a construção de piscinas e calçamentos, culminando com a comercialização desse produto, principalmente para residências nas décadas de 70 e 80. E, assim, aquela cidade viveu outro importante momento de riqueza.
Em meados dos anos 80, ambientalistas e comunidades alternativas buscaram Pirenópolis — terra de inigualável flora e belíssimas cachoeiras — para restabelecer suas energias. Muitos mudaram para aquela localidade, e com eles surgiram os primeiros bares, restaurantes, cafés nessa encantadora e tão acolhedora cidade histórica.
Hoje Pirenópolis é a principal atração turística na região devido às suas atrações naturais e às diversidades de pousadas de altíssimo luxo, bares e restaurantes para todos os gostos, proporcionando lazer em pleno sertão goiano.
Pode-se inclusive observar atualmente, nos finais de semana, a procura daquela cidade por turistas estrangeiros.