(por: José Rodolpho Assenço)
O Museu Vivo da Memória Candanga provavelmente seja o maior conjunto arquitetônico da história da Capital do país. Fundado em data anterior à cidade, localiza-se em um local estratégico, na junção das duas principais rodovias: a que vem de Goiânia, BR-60, e a que liga Brasília a Belo Horizonte, BR-40. Constitui, na verdade, uma relíquia da época embrionária da nova capital.
Com o início da construção de Brasília, a partir de 1956, um grande fluxo migratório acontecia no país em busca da nova capital: nordestinos, mineiros, cariocas, nortistas e os vizinhos goianos fluíram na direção da almejada Capital da Esperança na busca de empregos, riquezas e de um futuro melhor. Trouxeram ricas e diferentes culturas.
Como ainda não havia habitação definitiva, esses aventureiros, trabalhadores e empresários criaram acampamentos pioneiros, construídos em tábua. O maior de todos — e de grande destaque por ter sido o pólo comercial da cidade — foi a famosa “Cidade Livre”, hoje Núcleo Bandeirante.
Logo em seguida, em 1957, construíram próximo dali, e em apenas dois meses, o primeiro Hospital da nova capital, o HJKO, que contou com sede principal, ambulatórios, laboratórios e casas para funcionários.
Assim como a Cidade Livre, foi construído totalmente em madeira, especificamente tábuas e forro, em diversas casas dividindo cada atendimento.
Foi desativado em 1974, após a inauguração do Hospital Distrital. No entanto, hoje encontra-se tombado, com suas casas pintadas cada uma em uma cor, servindo de museu, história viva dos primeiros momentos da capital do país.
Em visita que fiz a esse museu, comecei pela primeira casa pintada em cor telha, onde funciona o ateliê do grupo “Gravura em Foco”, que Dona Eliana, esposa do amigo Dr. Luís, possui, com suas amigas. Tive a satisfação de registrar alguns trabalhos realizados por ela e seu grupo, observando o espaço em si e até mesmo a prensa utilizada para gravar essa singular arte.
Prossegui subindo a rua central em direção à sede principal do Museu, onde funcionava o Hospital. No caminho, chamou-me atenção as casas coloridas atrás mencionadas.
Cada uma delas serve de abrigo para algum tipo de manifestação artística ou artesanato local. Ressalte-se que diversas oficinas acontecem nessas casas difundindo os conhecimentos artísticos.
Na sede, temos o museu com a exposição permanente “Poeira, Lona e Concreto”, contendo diversas peças e objetos da época, bem como os registros fotográficos feitos pelos fotógrafos pioneiros dessa epopeia. Conta ainda o espaço com um consultório médico montado na forma que era quando de sua instalação inicial: diversos ambientes com peças que remetem ao cotidiano do Candango.
Vale lembrar que denominamos Candango todos aqueles que vieram ou que de alguma forma trabalharam na construção de Brasília.
Observei que há, naquele local, um restaurante instalado, anexo a uma grande área de convivência, onde fui recebido pelo Sr. Paulo, o proprietário, que prontamente me proporcionou uma saborosa refeição caseira num local extremamente aprazível, embaixo de uma mangueira.
Em seguida, dirigi-me ao grande galpão, onde encontra-se instalado o Museu do Automóvel, pertencente a um famoso Clube de colecionadores da capital, oportunidade em que fiz os últimos registros fotográficos do passeio cultural.